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24 de Junho - Maria da Ponte foi há 20 anos

Durante seis meses, milhares de cidadãos indignados deram corpo ao maior movimento de desobediência civil do século XX português que ditou o fim do cavaquismo no governo.
Imagens dos confrontos na ponte 25 de Abril

Passam hoje 20 anos sobre o primeiro bloqueio da Ponte 25 de Abril, considerada o “acontecimento do ano de 1994” no vídeo da RTP (ver em baixo)
 
Durante seis meses, milhares de cidadãos indignados deram corpo ao maior movimento de desobediência civil do século XX português que ditou o fim do cavaquismo no governo.

Dias depois das eleições para o Parlamento Europeu, nas quais sofreu a sua primeira derrota, o governo de Cavaco Silva aumentou a portagem da Ponte 25 de Abril de 100$00 para 150$00. Estava no auge a arrogância do cavaquismo, após duas maiorias absolutas, em 1987 e 1991.
 
O buzinão arrancou de imediato e durou até ao final do ano. Em causa estava não apenas um aumento brutal de 50%, mas sobretudo a consciência coletiva da INJUSTIÇA de tal medida numa ponte mais do que paga - os 20 anos fixados pelo governo de Salazar há muito tinham expirado.
 
O próprio Cavaco deitou gasolina na fogueira, ao declarar em tom de gozo: “como automobilista, também era capaz de buzinar”. Ao fim de uma semana de buzinão, face a um governo surdo, os camionistas iniciaram o bloqueio às 6 da madrugada de 24 de Junho, uma sexta-feira. Às 10 da manhã aterrou de helicóptero o MAI, Dias Loureiro, que deu ordem para a carga policial depois do fracasso das ”negociações” com os camionistas, pelas 11 horas. 

Dos confrontos ressaltam a brutal agressão dos “ninjas” da GNR face à resistência passiva do ex-oficial fuzileiro Duarte Silva; e o tiroteio da PSP à queima-roupa, na madrugada de 25 de Junho, atirando para uma cadeira de rodas o jovem Luís Miguel Figueiredo, então com 18 anos.

O povo tinha ocupado a praça da portagem e não deixou levantar o bloqueio que, desde o início da manhã, se estendera também ao sentido norte-sul. A palavra de ordem “NINGUÉM ARREDA PÉ”, resgatada ao vocabulário do PREC, atingiu a máxima expressão até à brutal carga policial, pelas 16 horas.
 
Dos confrontos ressaltam a brutal agressão dos “ninjas” da GNR face à resistência passiva do ex-oficial fuzileiro Duarte Silva; e o tiroteio da PSP à queima-roupa, na madrugada de 25 de Junho, atirando para uma cadeira de rodas o jovem Luís Miguel Figueiredo, então com 18 anos.
 
Após o período de isenção de portagens, alargado a Julho e Agosto, a luta reacendeu-se: o acesso a Lisboa pelo sul chegou a estar bloqueado durante dias. No decorrer do processo ficou claro que o aumento da portagem se destinava a financiar a construção da ponte Vasco da Gama, numa negociata conduzida pelo ministro Ferreira do Amaral que entregou à Lusoponte, durante 50 anos, o monopólio da exploração de todas as travessias do Tejo.
 
Apesar da intransigência cavaquista e da hipocrisia de dirigentes do PS - Guterres, futuro primeiro-ministro, Sampaio, Presidente da Câmara de Lisboa e futuro PR, Armando Vara, vendedor de promessas nunca cumpridas - os aumentos dos preços das portagens foram moderados pela intensidade desta luta.
 
Onde estão hoje:
    •    Joaquim Ferreira do Amaral - Presidente da Lusoponte
    •    Dias Loureiro - “reformado” do BPN”, a gente paga…
    •    Durão Barroso - ainda Presidente da Comissão Europeia
    •    Cavaco Silva - ainda Presidente da República
    •    Os filhotes do cavaquismo, em versão austeritária, estão no governo

Buzinão na Ponte 25 de Abril

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda
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