Tailândia: O golpe militar maquilhado

21 de May 2014 - 23:50

Tropas ocuparam todas as principais cidades do país e decretaram a lei marcial, impedindo também as transmissões pelos canais de televisão. O general Prayuth é quem controla a situação.

porTomi Mori

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O general Prayuth Jan-ocha. Foto de Government of Thailand
O general Prayuth Jan-ocha. Foto de Government of Thailand

Numa operação surpresa, terça-feira, os militares tailandeses ocuparam todas as principais cidades do país e decretaram a lei marcial. Também proibiram as transmissões pelos canais de televisão e, inclusive, proibiram uma livraria, em Bangkok, de vender oito títulos que falam de política.

Alegam ter tomado essa medida para manter a ordem, já que, com os últimos acontecimentos políticos, na prática, ninguém governa na Tailândia.

Não resta nenhuma dúvida de que, quando os militares tomam estas atitudes sem que o governo ou qualquer instituição democrática tenha pedido, em qualquer língua do planeta isso só pode ter um nome: golpe militar.

Os militares tailandeses deram esse golpe alegando que não se trata de um golpe e a situação mantém-se confusa por que, ao decretar a lei marcial, os militares não destituíram o governo provisório, em frangalhos, cujo mandato seria o de governar até as próximas eleições, que, agora, ninguém acredita que serão realizadas.

Golpe “judicial” cria vazio de poder

A justiça tailandesa condenou a cerca de duas semanas a primeira ministra Yingluck Shinawatra, por abuso de poder, o que levou ao seu afastamento e também a vários membros do seu gabinete.

Seria extremamente louvável que a justiça de qualquer pais defendesse a população dos seus governantes e os depusesse quando atuassem abusando do seu poder. No caso de Yingluck, não restam dúvidas de que ela, assim como todos os governantes do mundo, sem exceção, abusava do poder.

Mas a lamentável justiça tailandesa, em vez de atuar dessa maneira em defesa da democracia e de instituições democráticas, o que fez foi atacar a já debilitada democracia tailandesa com o objetivo explícito de favorecer os setores mais reacionários da sociedade composta, inclusive, pelos monarquistas.

Durante os últimos seis meses, os “amarelos”, que é a cor do setor burguês mais reacionário que agrupa também os monarquistas, tem protagonizado mobilizações de rua com o objetivo de derrubar o governo e subir ao poder dando um golpe, galgando mobilizações de massas compostas por um amplo setor da classe média e também pauperizados, contra os “vermelhos”, o setor burguês do qual a ex-primeira ministra era representante. Com um apelo populista, esse setor tem uma ampla base assentada no setor mais pobre da sociedade.

A destituição de Yingluck abriu o caminho para os militares subirem à cabeça do pais, sendo o general Prayuth quem controla a situação hoje.

Reunião convocada pelos militares acaba em fracasso

A reunião convocada nesta quarta-feira entre o que resta de governo e a oposição, com objetivo determinado pelos militares de que os dois lados encontrem uma solução para a crise, acabou em fracasso, sem nenhum acordo.

Para qualquer pessoa que acompanhe minimamente a situação na Tailândia, estava óbvio que nenhum acordo poderia ser concluído.

A luta política entre as duas fações políticas que governaram o país nos últimos anos já dura mais de dez anos e, com a agudização do conflito, o que era praticamente inviável antes, tornou-se absolutamente impossível.

Outras reuniões serão convocadas, mas, certamente, serão igualmente inconclusivas, tratando-se, portanto, de uma manobra para que os militares ganhem tempo e possam consolidar as suas posições com o menor desgaste possível.

O que quer dizer, em palavras simples, que os militares não sairão de cena tão cedo e, ao contrário do que os média mainstream de todo mundo dizem, a Tailândia já esta no caminho da ditadura militar.

O golpe maquilhado

O facto de as agências de notícias e todos os principais meios de comunicação estarem a fazer coro com os militares é porque, na atual conjuntura, com o mundo a viver crises em várias partes, é absolutamente impossível defender um golpe militar. Um exemplo disso é a atual situação vivida no Egito, onde após o derrube da ditadura Mubarak, os militares continuam nas rédeas do poder, mas não existe nenhuma condenação efetiva, apenas formal.

Nenhuma potência imperialista condenou a intervenção militar na Tailândia e, mesmo países ainda não imperialistas, como a China, tampouco se manifestaram em condenação aos acontecimentos tailandeses. No caso da China, seria de uma hipocrisia sem limites.

Mas não deixa de causar espanto estarem todos em completo acordo para maquilhar o golpe militar, afirmando que ainda não é disso que se trata.

Resta esperar agora para ver se as massas tailandesas aceitam ou não a atual situação.

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Tomi Mori