You are here

Vietname: 3 mil chineses fogem dos violentos protestos

Disputa entre Vietname e China sobre área que possui grandes reservas de petróleo, nas proximidades das ilhas Paracel, desencadeia crise entre os dois países e provoca manifestações de vietnamitas contra a comunidade e empresas chinesas.
Área em disputa é rica em petróleo
Área em disputa é rica em petróleo

A China enviou, neste domingo, cinco navios para evacuar os chineses ameaçados pela onda de protestos que já se alastrou por 22 das 63 províncias do Vietname. No domingo, segundo a agência Reteres, a polícia tomou as ruas de varias localidades e, em Hanói e Ho Chi Minh, as duas principais cidades do pais, vários manifestantes foram presos quando tentavam iniciar novos protestos.

Os protestos começaram desde que a CNOOC, empresa de energia estatal da China, enviou dezenas de barcos para prospeção de petróleo numa área a 240 km da costa vietnamita, reclamada pelos dois países. É uma área de conflito, no mar do sul da China, nas proximidades das ilhas Paracel, que possui grandes reservas de petróleo.

Essa atitude iniciou uma guerra de palavras entre os governos da China e do Vietname.

No domingo, dia 11, centenas de manifestantes protestaram em frente à embaixada chinesa, em Hanói. “China, tire as mãos do Vietname!” diziam os cartazes.

A continuidade da agressão provocou a ira dos vietnamitas. O governo tinha permitido pequenos protestos na semana passada; não é comum, porém, estes fugiram do controle. O governo tentou coibir as manifestações mas não teve sucesso.

Na quarta-feira, os confrontos entre vietnamitas e chineses na província de Ha Tinh levou à morte de dois chineses e deixou um saldo de 140 feridos. Segundo médicos e testemunhas, na noite dessa quarta-feira foram vistos de 13 a 21 cadáveres, a maioria de chineses. O governo vietnamita, até hoje, reconhece apenas uma morte, alegando que o número de mortos que circulou nos últimos dias, não passa de boatos sem fundamento.

Em Ha Tinh, que fica na região central do país, centenas de manifestantes demonstraram a sua fúria contra a siderúrgica Formosa Plastics, imaginando que esta seria uma empresa chinesa. A Formosa Plastics, como o seu nome indica, é de Taiwan e, hoje, é o principal investidor taiwanês no Vietname. Os protestos alastraram-se para o sul do país, com milhares tomando as ruas e incendiando fábricas estrangeiras.

Na manhã deste domingo, 18 de maio, dezasseis feridos, em estado crítico, foram evacuados do Vietname. Foram embarcados num voo fretado, com corpo médico, providenciado pelas autoridades chinesas.

Durante a semana, as autoridades do Camboja, país vizinho, afirmam que mais de mil chineses em fuga cruzaram as suas fronteiras, refugiando-se na cidade fronteiriça de Bavet, onde uma parte ainda se encontra, aguardando o desenrolar dos acontecimentos.

Os protestos ocorreram também nas Filipinas, com os manifestantes tomando posição ao lado dos vietnamitas e condenando a agressão chinesa, em particular na questão das ilhas Spratly, reclamada por vários países – Brunei, Malásia, Taiwan, Filipinas e China.

Ascensão da China com medidas imperialistas gera tensão na região

Durante todo este episódio, a China tem acusado Obama de ter viajado recentemente para provocar a cizânia na região, o que tem gerado atritos, inclusive o de agora.

A China, até a vitória da Revolução Chinesa, em 1959, também foi uma nação agredida. No entanto, com a ascensão económica que se produziu desde a década de 80, tem, cada vez mais, mostrado as suas garras e a disposição imperialista. Isso pode ser observado, por exemplo, na África, onde é acusada de fazer acordos económicos sem escrúpulos com qualquer tipo de regime. Essa acusação – sem justificativa, já que parte dos países imperialistas tampouco tem algum escrúpulo, como os EUA, o Reino Unido e a Alemanha, não resolve a questão. A China continua a aumentar a sua influência nesse continente e, inclusive, tem recebido elogios dos seus parceiros, já que “não ficam a dar aulas sobre como temos de governar”, em referência a governos como o de Washington.

Mas a atitude imperialista da China ficou visível neste episódio e também tem sido uma fonte de conflitos permanentes com as Filipinas, na disputa das ilhas Spratly. Uma simples olhadela no mapa deixa claro que a China quer controlar e tomar posse de toda a riqueza existente no mar do sul da China, através de sua força militar e económica.

Essa atitude, segundo muitos analistas, pode intensificar-se com os últimos acontecimentos na Ucrânia. A Rússia ocupou a Crimeia e, no final, todas as potências engoliram o facto, apesar da crise continuar por causa de outras áreas do leste da Ucrânia. Teme-se que isso sirva de exemplo também para a China, já que a decadência e crise das potências imperialistas não lhes permite impor com a força das baionetas a sua vontade.

A atual rebelião dos trabalhadores vietnamitas contra essa agressão chinesa, ainda que revestida de forte nacionalismo, com amplos setores afirmando que estão dispostos a defender o seu governo contra os chineses, constitui, sem dúvida, um dos mais poderosos movimentos da história recente do Vietname.

A repressão que o governo vietnamita tem desencadeado, numa situação em que era de se esperar que levantassem todo o país contra a agressão chinesa, mostra apenas o temor que as autoridades têm da sua própria população. Afinal, uma vez que se levante contra a China, poderia muito bem levantar-se contra o próprio governo, contra os privilégios da elite governante e das suas grandes e obscuras negociatas. Não se pode esquecer que se trata da população que venceu o principal imperialismo, o norte-americano.

Sobre o/a autor(a)

Termos relacionados Internacional
(...)