Miguel Guedes

Miguel Guedes

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.

Quase 15 000 pessoas morreram de covid-19 em Portugal mas não foi essa a razão que levou o grupo negacionista dos "Médicos pela Verdade" a suspender actividade, redes sociais e respectivo site.

Enquanto se discutem os pequenos descuidos e os enormes abusos no processo de administração de vacinas em Portugal, a grande ilusão está na forma misteriosa como as empresas farmacêuticas driblam os acordos firmados.

As eleições presidenciais criaram um sentimento de orfandade transversal a todo o espectro político. Ninguém pode reclamar vitória com propriedade, mesmo aqueles que explícita ou implicitamente apoiaram a recandidatura vencedora de Marcelo Rebelo de Sousa.

A Justiça portuguesa já andava mergulhada em dúvidas existenciais sobre a sua natureza e sobre o comportamento antinatural das suas toupeiras. Nasce então o dia em que uma procuradora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa achou que podia acordar na Hungria.

Já não basta bater em retirada, assobiar para o lado e sair de fininho. Não há outro caminho que salve o partido republicano deste engulho: terão de deixar cair Donald Trump, admitindo o "impeachment" ou, pelo menos, que responda em tribunal pelos crimes que deverá ser acusado.

Se olharmos para este dia 1 como uma espécie de início de um ano zero que nos permita apenas respirar, acabaremos rapidamente sufocados em arrependimento no próximo e inevitável sufoco. Estejamos, antes, à altura do mal que passámos.

O instinto para partilhar compotas em vãos de escada está mais apurado do que nunca, sumo-pontífice-geleia da boa vizinhança, a expensas da Direcção-Geral da Saúde.

Qualquer reaparecimento público de Cavaco Silva ou de Durão Barroso é um acontecimento equiparável à permanência de crédito malparado: convoca sempre um ajuste de contas com o passado.

Foram necessários nove meses para o Estado português parir uma indemnização. Todo o tempo de gestação de uma vida humana para Portugal corresponder à sua mais elementar obrigação: indemnizar a família por um homicídio às suas mãos.

Saber se a presença em frente ao Parlamento de nove empresários em greve de fome, faz mais ou menos pelas reivindicações do sector da restauração, hotelaria e diversão nocturna é algo de muito questionável.