Miguel Guedes

Miguel Guedes

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.

A Direita portuguesa pode fazer o que bem entender com os seus princípios e com a sua história. A Direita democrática pode ter encontrado o momento ideal para acolher no seu seio, em discurso directo e sem contraditório, o denominador maior da sua autofagia.

Há bandidos que desistem por falta de condições objectivas para a realização do assalto, outros há que abdicam por nem se darem ao trabalho de fazer um estudo de mercado.

A resposta do cineasta João César Monteiro, aquando da estreia do seu muito polémico filme "Branca de Neve", pode ser a ilustração de toda a Operação Marquês desde o minuto em que José Sócrates aterrou no Aeroporto da Portela.

Dizer que as opiniões de Suzana Garcia a habilitam para candidata autárquica, mas não para candidata a deputada, candidata-se a anedota política do ano.

Independentemente da legítima questão constitucional que o TC decidirá, a equação coloca-se no plano político. E no plano político, a equação inclinou-se para o tacticismo cínico.

O PSD tem boas razões internas para defender o adiamento das eleições autárquicas para os últimos meses do ano. Mas são só isso mesmo, boas razões internas.

Ao falharmos no combate à corrupção, deixamos os inimigos da democracia a alimentarem-se da sua corrosão, para a destruir.

A Europa vive agora a sua derradeira hipótese de redefinição, aquela que a salve dos populismos extremistas.

A Humanidade vive segundo as suas próprias leis. Uma das premissas é que os crimes podem prescrever, mas a História não. Mesmo que criminosa, a História não tem direito à prescrição porque vive sob o jugo da memória. E essa não esquece.

Os heróis representam-nos. São a glorificação do nosso bem maior, do que temos de melhor, o orgulho que podemos lançar como carta afectiva. É também por isso que representar Marcelino da Mata como herói é um vexame nacional e diz bem da nossa (não) relação com a História.