Miguel Guedes

Miguel Guedes

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.

Quando a ASAE sinalizou margens médias de lucro de até 50% nos supermercados e quando, no ano passado, as cadeias de distribuição tiveram à venda produtos com margens de lucro a rondar os 50% em bens alimentares essenciais, é difícil acreditar que todos acordaram agora para o mal-estar geral.

O acelerador da política pode agora começar a ser pisado e a velocidade aumentará pelo poder do desgaste. Nunca Marcelo vetou tão antecipadamente uma legislação, nunca Costa se opôs tão veemente a um pré-veto.

Podendo guardar silêncio sobre a reacção da Direita, seu hemisfério, ao convite dirigido ao presidente do Brasil, Lula da Silva, para discursar na cerimónia comemorativa do 25 de Abril no Parlamento, o presidente da República assume, uma vez mais, a farpa e o alvo.

Assistir à forma como a Igreja Católica reage à própria culpa é uma mácula que se anexa aos crimes. O provérbio arrasta-se e soma em vergonha alheia, mesmo por aqueles que, não sendo crentes, ainda acreditavam na fé dos homens.

Uma companhia aérea destas atreve-se a ser má companhia. Depois de arrastar o ministro e putativo líder Pedro Nuno Santos para uma travessia do deserto, a TAP conduziu o poder político para o descrédito.

O balão nos céus de Montana é ar rarefeito e tóxico para qualquer perspectiva de esvaziamento pós-tensão. Quando as potências confirmam que a espionagem do inimigo ganhou aos pontos no tabuleiro do jogo, já não há nada que não se faça às claras.

O que hoje se decide em sede de especialidade sobre a "Agenda para o trabalho digno" será um consenso a dois sobre matérias que nunca pretenderam consensualizar e das quais, gritantemente, desviam o olhar. Não sendo isto já suficientemente grave, assistimos a um recuo a pedido.

O palco-altar para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, onde o Papa Francisco celebrará a missa final é um transtorno para os crentes, um absurdo para o Estado laico, um negócio como os outros para empreendedores e um disparate económico para todos.

A responsabilidade de nomeação não pode morrer solteira, nem deve dar entrada nos cuidados paliativos, caucionada por um estado policial que mine a separação de poderes.

O Brasil poderá fazer algo que os EUA não conseguiram. O ataque às três instâncias de poder no Brasil só acontece porque a inspiração pelo exemplo maior ganhou asas e faz caminho.