Miguel Guedes

Miguel Guedes

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.

A convicção de que se pode desaparecer da zona de guerra com um acordo invisível foi o pior negócio da vida de Prigozhin. As palavras de Putin assentam-lhe como uma luva.

A intempestividade do líder da bancada parlamentar do PSD ao questionar o Conselho de Administração da RTP sobre um cartoon de política internacional relativo à violência policial em França, como se de Portugal se tratasse, é um tratado que Pavlov não desdenharia.

A insistência do pedido norte-americano para que a Ucrânia não atacasse a Rússia durante a rebelião russa é um belo sinal de respeito pela dúvida.

À confirmação da morte dos cinco ocupantes do Titan no Atlântico Norte, contrapõe-se o desaparecimento recente de mais de 500 migrantes no mar Mediterrâneo que, neste último caso, se soma às 21 mil mortes e desaparecimentos desde 2014, adensando vários crimes de Estado.

A falta de vontade política para travar a crise climática é evidente e não pode dispensar disrupção, rasgões e opiniões divididas. O activismo não se faz apenas de informação e pela habitação de lugares nobres. Se assim fosse, Greta Thunberg nunca teria faltado às aulas.

Por vezes, parece que uma parte da táctica deste Governo é fazer figura de corpo presente e que esse prémio de assim existir é bastante, mais do que suficiente para manter a Oposição aos papéis, sem discutir aquilo que verdadeiramente interessa ao país.

O caso Tutti Frutti, como muitos outros acordos nupciais sem casamento, joga-se a dois e não com todo o espectro do sistema. Mas, ainda assim, coloca em causa a sustentabilidade e confiança de todo o regime democrático.

O ambiente de "saloon" vivido no Ministério das Infraestruturas não é dignificante, mas por ter sido conhecido e relatado pela voz de João Galamba acaba por se elevar a tesourinho de Estado.

A TAP é uma tragédia política para os anais da História da desqualificação da democracia portuguesa.

Ao poder central, enquistado na letargia e apostado na manutenção dos interesses instituídos, o país continua a pesar como um fardo.