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FMI quer salários mais baixos e despedimentos fáceis e mais baratos

O Governo comprometeu-se com os credores internacionais a estudar a redução das indemnizações por despedimento sem justa causa para as aproximar do valor em vigor nos despedimentos com justa causa. FMI entende que apesar de todas as medidas de austeridade, "a rigidez dos salários nominais permaneceu elevada".
Passos Coelho e Christine Lagarde numa reunião do Conselho Europeu em 2011.

No memorando de políticas económicas e financeiras, com data de 28 de março, e que acompanha o relatório do Fundo Monetário Internacional sobre a 11.ª avaliação ao programa da troika, o Governo indica que tem "várias opções disponíveis para promover a negociação salarial e desenvolvimentos salariais compatíveis com os fundamentos económicos" e que está a estudar essas opções em diálogo com os parceiros sociais.

Entre essas opções está uma "redução do pagamento de indemnizações por despedimentos sem justa causa", os quais iriam "ajudar a reduzir a diferença aberta com a ampla redução das compensações por justa causa".

O FMI refere que a legislação já aprovada "aumentou a diferença entre as compensações por justa causa (para 12 dias por ano de antiguidade) e sem justa causa (até 45 dias por ano de serviço)".

O Código do Trabalho prevê no seu artigo 391º que nos despedimentos sem justa causa ganhos pelo trabalhador em tribunal, este pode, como opção à reintegração, "optar por uma indemnização cabendo ao tribunal determinar o seu montante, entre 15 e 45 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo".

Outra medida apontada pelo Executivo na documentação divulgada esta segunda-feira pelo FMI passa por promover os acordos coletivos, ajustando o critério atual para a extensão de um acordo coletivo tendo em conta a representatividade das pequenas e médias empresas em vários setores.

O Governo admitiu ainda que vai apresentar "opções de política" sobre a contratação coletiva, em diálogo com os parceiros sociais, adiantando que, se esta opção não for possível de implementar, vai "estudar e apresentar uma proposta sobre as suspensões temporárias dos acordos coletivos por mútuo acordo".

No relatório, a instituição liderada por Christine Lagarde considera que há ainda obstáculos persistentes que dificultam a capacidade das empresas portuguesas de captarem investimento e de serem globalmente competitivas, incluindo a rigidez no mercado de trabalho.

O Fundo refere que os custos unitários do trabalho caíram no setor privado, mas que essa queda se deveu em larga medida à recessão e não à queda dos salários, ou seja, as empresas fizeram o seu ajustamento diminuindo o número de horas de trabalho e cortando nos custos não salariais, "mas a rigidez dos salários nominais permaneceu elevada".

Para o FMI, "a flexibilidade laboral ia garantir a criação mais rápida de emprego no setor transacionável, à medida que a economia melhorasse".

A organização refere ainda que, apesar de ter sido legalmente facilitado, o despedimento de trabalhadores individuais "é, na prática, difícil", pelo que é preciso "garantir que as reformas se traduzem em mudanças efetivas".

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