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2013: Adeus Tristeza

Enquanto 365 dias passavam, Cavaco continuou a admirar o sorriso das vacas. Não pediu a fiscalização preventiva do Orçamento do Estado para 2014, mostrando que para o PSD e o CDS a política austeritária e o programa de resgate da banca está acima da própria constituição.

2013 foi um ano longo. Os seus 365 dias pesaram na vida de cada um, empobrecendo-nos e esvaziando o espaço onde cuidadosamente mantínhamos a esperança. Gritámos até perder a voz, a mesma que o Governo se esforçou por silenciar. Não conseguiu.

Em Março, invadimos as ruas – que já nos conhecem bem – para dizer “que se lixe a troika!”. Fomos milhões a exigir a demissão de Passos Coelho e a expulsão do FMI. Um mês depois: vitória. Relvas demitiu-se. Após sucessivos escândalos relativamente à sua licenciatura, ameaças a jornalistas e ao envolvimento pouco claro na privatização da RTP, Relvas saiu do Governo tão rapidamente quanto fugiu dos protestos dos quais foi alvo no ISCTE. Nesta fase, já nenhum membro do Governo podia sair à rua sem ser alvo de “grandoladas” ou insultos por parte de um povo cansado das mentiras e do desprezo pela democracia demonstrado pelos executivos.

Vivemos depois uma das mais expressivas greves de professores dos últimos anos. Em dia de exame nacional, abandonaram as escolas pela defesa da Escola Pública, lutando pela dignidade da carreira docente, pela qualidade do ensino e, sobretudo, pela demissão de Nuno Crato que demonstrou nada saber sobre o funcionamento das escolas e as necessidades pedagógicas e curriculares dos alunos.

Pouco depois, em Julho, novamente um momento de felicidade extrema: Portas demite-se irrevogavelmente. Foi sol de pouca dura. Entenderam-se as comadres e PSD e CDS reataram o seu caso amoroso. Afinal o Governo estava para ficar e fingiu não estar abalado. Mas nem isso nos calou.

Em Agosto, Nuno Crato voltou às luzes da ribalta para personificar o sonho idílico do CDS: o cheque ensino. Fê-lo de forma discreta, temendo a reação da opinião pública ao perceber que esta era mais uma manobra do governo em direção à privatização da Escola Pública. Os milhões que o governo afirmava não ter disponíveis para investir na escola pública estão agora a ser gastos em contratos com colégios privados sob o argumento da “liberdade de escolha”. Sabemos que é uma falácia; sabemos que o caminho da democracia e da justiça é o investimento na escola pública, que é de todos e todas nós.

Setembro trouxe-nos as eleições autárquicas. Tornou-se claro que o voto das pessoas vetou o governo, tendo o PSD perdido parte das câmaras que tinha. Contudo, não cantamos vitória. A abstenção dominou as eleições e esse é um facto preocupante. A alienação política das pessoas advém de jogos políticos e de uma manipulação promiscua da direita que levou muitos a acreditar que a democracia não é uma arma; que o voto não tem qualquer validade porque as campanhas são feitas de mentiras do centrão, que nos tem (des)governado. Este populismo anti-democrático invade cada vez mais a opinião pública, desacreditando o poder de cada cidadão nas decisões políticas.

Em Outubro percebemos que o Governo não gosta de manifestações. Proibiu a CGTP de realizar um protesto na ponte 25 de Abril, escondendo-se atrás do argumento da segurança. É um falso argumento, tendo em conta as dezenas de maratonas que se realizam no mesmo espaço. Ainda assim, não nos vergámos. O dia foi marcado por protestos que contaram com milhares de pessoas.

Em Novembro os estudantes voltaram a sair às ruas. O movimento estudantil em Portugal tem sido dominado por associações e federações académicas minadas por juventudes partidárias próximas do governo. No dia 19 daquele mês, provámos que nem assim conseguem controlar o clima de contestação que se vive nas faculdades. Os estudantes reivindicam mais ação social e menos propinas e dizem “não!” à privatização do ensino; chumbam a austeridade que provoca o sub-financiamento das universidades e obriga os jovens a terem de escolher entre estudar ou ter dinheiro para viver.

Mais recentemente fomos alvos de outro golpe do Governo. Seguindo a linha política que tem guiado o seu mandato, decidiram privatizar os CTT – não sem antes encerrar dezenas de balcões, piorando o serviço - e os Estaleiros de Viana a preço de saldo, provocando despedimentos em massa.

Enquanto 365 dias passavam, Cavaco continuou a admirar o sorriso das vacas. Não pediu a fiscalização preventiva do Orçamento do Estado para 2014, mostrando que para o PSD e o CDS a política austeritária e o programa de resgate da banca está acima da própria constituição.

Após sucessivos chumbos do Tribunal Constitucional, o Governo ainda não aprendeu a lição e continua esforçar-se por empobrecer o país e financiar o grande capital à custa da destruição do Estado Social. Este governo é uma ode ao neoliberalismo.

2013 foi um ano longo. Aprovámos a coadoção (contudo, só cantaremos vitória quando a adoção por casais homossexuais for aprovada), estudantes cujos familiares tenham dívidas ao fisco já não são excluídos de imediato do programa da acção social e travámos a austeridade fanática do Governo através de cada chumbo do Tribunal Constitucional, muitos deles, protagonizados por pedidos de fiscalização que contaram com a intervenção crucial do Bloco de Esquerda.

2013 foi um ano longo mas 2014 será maior ainda. Sabemos que temos a razão do nosso lado quando lutamos pelo fortalecimento do Estado Social, pelo investimento na Escola Pública, pela solidificação do Serviço Nacional de Saúde. Sabemos que, quando lutamos pela redução do desemprego, pelo aumento da qualidade de vida dos reformados – que agora apenas sobrevivem – e pelo fim da exclusão social provocada pela pobreza, xenofobia, homofobia e pelo racismo só podemos vencer. É essa razão que nos dá ânimo para enfrentar 2014 com mais força do que vivemos em 2013.

O governo quer arrastar o país para um 2º resgate, proliferando o ciclo de depressão económica em que estamos inseridos. Vamos vetar.

O ano que amanhã começa trará mais pessoas à rua, construirá grandes expressões sociais em nome do desejo de mudança.

Vamos mudar o mundo.

Sobre o/a autor(a)

Estudante do Ensino Superior. Membro da Coordenadora Nacional de Estudantes do Bloco de Esquerda.
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