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Egito: Irmandade Muçulmana classificada de “organização terrorista”

O governo interino saído do golpe de 3 de julho, com forte influência dos militares, prossegue a campanha contra a Irmandade Muçulmana. Desta vez, aproveitou os efeitos de um atentado mortífero contra uma esquadra de polícia para responsabilizar a organização do presidente deposto Mohamed Morsi. Apesar da Irmandade Muçulmana ter condenado e negado qualquer envolvimento no atentado, que foi reivindicado por um grupo ligado à al-Qaeda, isso não demoveu o governo de declarar a Irmandade como “organização terrorista”.
Apesar de não existir qualquer prova que ligue a organização aos atentados, a partir de agora todas as atividades da Irmandade Muçulmana passam a ser criminalizadas e qualquer membro poderá ser julgado e condenado por pertença a organização terrorista. A medida foi aplicada pela primeira vez na madrugada desta quinta-feira, com a polícia a apreender a edição do jornal "Liberdade e Justiça" e a proibir a sua distribuição. O Ministério do Interior justifica a proibição dizendo que apesar do jornal ter sido fundado após a formação do Partido ligado à Irmandade, ele fala em nome da organização agora classificada de "terrorista".
A Irmandade Muçulmana foi fundada em 1928 e renunciou à violência no fim dos anos 70. Embora perseguida, manteve a sua atividade sob o regime de Mubarak e desempenhou um importante papel na revolta da “primavera árabe” a partir da Praça Tahrir, formando uma aliança com os democratas para depor Mubarak.
Na eleição presidencial que se seguiu, o seu Partido da Liberdade e Justiça candidatou Mohamed Morsi e ganhou as duas voltas, tendo obtido também a maioria nas eleições legislativas. O mandato de Morsi não durou mais de um ano. A nomeação de chefias militares da sua confiança e a revogação de normas que limitavam o poder presidencial despoletou o golpe militar em poucas semanas, acabando deposto e enviado para a prisão.
Em setembro, a Irmandade Muçulmana foi proibida e a organização regressou à clandestinidade, organizando desde então protestos quase diários pelo regresso do presidente eleito e contra o golpe militar de julho passado. Ao declará-la agora como “organização terrorista”, o Governo interino dá mais um passo na escalada do conflito que tem dividido o Egito. Mas para Ibrahim Elsayed, membro do Partido da Liberdade e Justiça citado pelo Guardian, trata-se de uma decisão baseada em falsas acusações e que “só vale o papel onde foi escrita”. Mas um ministro do atual Governo egípcio já veio dizer que ela significa a proibição das manifestações já agendadas e introduz também o direito do exército ou da polícia a entrar nas universidades para impedir protestos.
Comments
Discordo profundamente da
Discordo profundamente da ideia deste artigo. Eu não sei se esta é a "linha" do Bloco mas esta questão certamente divide opiniões e deveria ser debatida em vez do BE abertamente defender a irmandade muçulmana.
"A religião é o ópio do povo" . Acredito na democracia e na liberdade de associação política. Não acredito é na mesma feita por dogmáticos religiosos que tentam impor, por decreto constitucional, uma linha religiosa como base de regulação da sociedade. Contra isso basta, no exemplo nacional mais recente, a influência do cardeal Cerejeira no tempo de Salazar e vivíamos numa ditadura. Quanto mais deixar que pior aconteça numa democracia. A democracia, embora sendo a forma mais eficaz de enaltecer o espírito humano, não deve nem pode ser submetida aos ditames de uma maioria que cilindra os mais básicos direitos do Homem e que a deturpa através de princípios religiosos.
Sendo assim, as eleições livres do Egipto são uma evidência do que uma sociedade democrática nunca deveria ser: Uma maioria que oprime uma minoria em vez de a tratar com o respeito merecido de uma convivência em democracia. A irmandade muçulmana queria, através do seguimento de uma justa revolução, tirar partido do momento e utilizar o sentimento de mudança para implementar a lei muçulmana, baseada em ideais religiosos, e assim dirigir o país de uma forma autoritária e contrária aos próprios ideais democráticos que a levaram ao poder.
Com isto, não quer dizer que concorde com os actuais dirigentes do país e no que estão a fazer. Nem um lado, nem o outro, conseguem resolver a situação actual e o futuro do povo egípcio é mesmo muito incerto. Qualquer dos dois lados não consegue, a curto prazo, ser uma solução para este país e existe uma evidente cisão na sociedade. No entanto, não caiamos na ilusão de que, neste caso, defendendo a maioria eleita, da mesma sairá uma sociedade democrática. A irmandade muçulmana é prova cabal deste argumento e qualquer apoio à mesma não passará de um exercício fútil que tenta justificar um poder não democrático eleito por uma eleição democrática saída de uma revolução.
Por uma lado o BE critica, e muito bem, a falta de liberdade - por exemplo das mulheres - em países muçulmanos. Como pode, ao mesmo tempo, apoiar um regime que irá implementar as mesmas ideias no Egipto ? Sejamos coerente por favor ...
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