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Troika prometeu aos parceiros sociais mais austeridade

À saída da reunião da delegação da troika com representantes de patrões e trabalhadores, a insatisfação foi a nota dominante.
Silva Peneda ladeado pelos representantes do FMI; Comissão Europeia e Banco Central Europeu. Foto Miguel A. Lopes/Lusa

A reunião que juntou os funcionários da troika com os parceiros sociais em Lisboa deixou representantes de patrões e trabalhadores com um "amargo de boca", na expressão do líder da CIP, António Saraiva. "Mostram-se solidários e subscreveram a posição institucional. Mas apesar de reconhecerem que a magnitude dos efeitos recessivos foi maior [do que esperado], não deram a ideia de que vão corrigir a trajetória", disse o líder patronal à agência Lusa, referindo-se à "solidariedade institucional" que a troika diz ter em relação às declarações de Christine Lagarde. A responsável do FMI admitiu os erros na receita da troika, cujos efeitos recessivos nas economias dos países sob o seu memorando foram sempre subavaliados. 

"Mas de solidariedade deste tipo estamos nós fartos", afirmou por seu lado Arménio Carlos. O líder da CGTP revelou que a troika entende que o modelo de cortes e austeridade é para manter por muitos anos. "Foi transmitido que o memorando de entendimento foi apenas o início de um processo de ajustamento que vai continuar por muitos anos", prosseguiu Arménio Carlos, que acusa a troika de ter a intenção de "recolocar a discussão sobre os salários" como entrave à competitividade.

A CGTP colocou em cima da mesa a questão do aumento do salário mínimo nacional, que reúne o consenso dos parceiros sociais mas tem sido travada pelo Governo. "O que se nota é que há cumplicidade entre a 'troika' e o Governo para encontrar pretextos para não aumentar o salário mínimo nacional", que hoje é de 432 euros líquidos, um valor que devia "corar de vergonha" o Governo e a troika, por se situar abaixo do limiar da pobreza.

Já o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal não escondeu a sua incredulidade com uma afirmação do representante do Banco Central Europeu neste encontro. "Hoje tivemos pela primeira vez uma intervenção do representante do BCE, em que reafirmou a tese de que o BCE não deve emprestar dinheiro aos países mas aos bancos, porque o risco de emprestar aos países é maior do que emprestar aos bancos", o que Vieira Lopes considerou uma "postura extremamente peculiar". 

Ainda sobre esta afirmação de Rasmus Ruffer, o único membro da delegação da troika que se mantém na equipa que assinou o memorando de 2011, Arménio Carlos teve palavras mais duras: "Isto faz sentido? Não, só na cabeça destes senhores". Para o líder da CGTP, o facto do BCE emprestar aos bancos a 0,25% de juro enquanto "cobram 6% ou 7%" a Portugal, ou 3% a 3,5% no empréstimo da troika, "é um roubo que fazem ao povo português e ao nosso país".

Em sintonia com os restantes parceiros sociais, a presidente da UGT confirmou que a reunião não trouxe  “qualquer abertura para aliviar a austeridade” e que os representantes da troika até disseram que “se o salário mínimo fosse aumentado, haveria mais desemprego”.

Quanto à utilidade destas reuniões entre a troika e os parceiros, os representantes patronais também estão em sintonia. Para António Saraiva, "mais uma vez, a 'troika' ouviu o que parceiros sociais tinham a dizer, não transmitiu nenhuma ideia, nenhuma alteração, não deu sugestões para futuro e esta reunião foi para cumprir calendário". Vieira Lopes concorda e vai mais longe: "Isto é uma simples audição. Aquilo que os parceiros sociais aqui dizem não serve para nada". 

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