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Jornalista brasileiro obrigado a fugir após denunciar corrupção policial

A liberdade de expressão e de imprensa é um dos princípios fundamentais inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo dia se assinala na terça-feira, mas é violada diariamente, em muitas partes do mundo.
O jornalista Mauri König é disso exemplo. Como contou em entrevista telefónica à Lusa, o repórter da Gazeta do Povo teve de sair do país e viver escondido, depois de, em dezembro de 2012, ter recebido “ameaças sérias”, que “partiram de policiais”, pelo que andava a escrever sobre corrução nas forças de segurança.
Em concreto, o jornalista publicou uma série de reportagens sobre agentes que estavam a usar veículos oficiais para fins pessoais, como ir à praia ou visitar prostíbulos, e revelou um esquema de desvio de fundos para manter delegacias desativadas ou inexistentes.
Mauri König foi galardoado com o Prémio Internacional de Liberdade de Imprensa 2012, atribuído pelo Comité de Proteção aos Jornalistas, que, juntamente com o Instituto Prensa y Sociedade, o retiraram do Brasil e acolheram num “lugar seguro, em Lima”, capital do Peru, “durante praticamente dois meses”.
Desde fevereiro que o jornalista está de volta ao Brasil, onde voltou ao trabalho, “normalmente” e “sem ameaças”, mas às custas de mudanças de rotina. “Não vou, por exemplo, a alguns lugares onde normalmente eu ia, tive de vender a minha casa por causa das ameaças, hoje moro num apartamento mais próximo do jornal onde trabalho, para ficar menos exposto nas ruas”, exemplifica.
Passados dez meses, ainda está a viver “os reflexos negativos das ameaças”, por exemplo a distância do filho, que vive com a ex-mulher a mais de mil quilómetros. Já tinha acontecido o mesmo com os dois mais velhos, quando, em 2003, König teve de mudar de cidade por causa de ameaças da polícia, na sequência de uma reportagem.
É, portanto, um repetente e um insistente. Se, quando voltou ao jornal, optou por trabalhar “temas mais amenos, que não implicassem riscos”, König já voltou a escrever sobre segurança pública e corrupção.
“Apesar da democracia, (…) ainda temos um resquício da ditadura dentro das forças armadas brasileiras, dentro das forças de segurança pública”, denuncia.
“Suponho que a grande maioria dos policiais brasileiros age corretamente, dentro da lei, mas tem uma parcela de policiais que age à margem da lei”, distingue. Esses agentes consideram “eficaz” a “ameaça a quem está expondo algum tipo de irregularidade que eles estejam cometendo”, justifica, realçando que “a questão da segurança pública no Brasil” – “da insegurança pública”, corrige – “é conjuntural”.
Nove em dez homicídios “ficam impunes”, sem que o autor seja descoberto ou castigado “exemplarmente”, recorda. “Esse alto índice de impunidade faz com que uma pessoa quando está disposta a cometer um crime ou a agredir alguém (…) avalia o custo-benefício e conclui que a possibilidade de ser punido é muito pequena e então adota o expediente da ameaça ou da agressão”, explica.
Esta situação, assinala, “não tem melhorado, porque é um problema conjuntural”, persistindo “deficiências” tanto na prevenção do crime, como no trabalho de investigação após o crime.
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