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Moçambique: exército invade casas para recrutar jovens à força para a guerra

Jovens moçambicanos têm sido surpreendidos nas suas casas e bairros pelas Forças Armadas de Moçambique. Pais temem que os seus filhos estejam a ser recrutados para combater na guerra que assola a região centro do país. (atualizada às 16:00)
Foto: Forças Armadas de Moçambique

No decorrer desta semana, na cidade da Beira, vários jovens foram surpreendidos nas suas casas e bairros pelas Forças Armadas moçambicanas, para os forçar a integrar o serviço militar, violando a lei que regula a região.

A situação está a deixar a população em pânico. “Não queremos ver os nossos filhos a morrer em Muxúngue”, disse uma cidadã da Beira, que pediu o anonimato, em contacto telefónico ao órgão de informação CanalMoz.

Os pais temem que os seus filhos sejam recrutados para a violenta guerra que se trava na região centro de Moçambique, que opõe as Forças Armadas de Moçambique e a Renamo.

O recrutamento forçado de jovens moçambicanos ocorreu em todos os bairros da cidade, fazendo lembrar as práticas militares semelhantes que se viveram durante a sangrenta guerra civil que opôs a Frelimo e a Renamo durante 16 anos.

Ministério da Defesa Nacional de Moçambique distancia-se

“Há jovens convocados anualmente e podem ser estes que estão a ser procurados agora. De acordo com a lei respondem em tribunal. É bom procurarem perceber quem está a fazer a busca e para aonde. Porque os militares não têm este mandato de ir recolher pessoas nos bairros”, disse Benjamim Chabulo, assessor de imprensa do Ministério da Defesa Nacional de Moçambique, em declarações ao CanalMoz.

População protesta contra o recrutamento "relâmpago e forçado"

"Os carros queimados nos confrontos da semana passada (entre polícia e apoiantes do partido de oposição MDM) foram usados para barricar a estrada. Há gente na rua e a polícia está a disparar e a lançar gás para dispersar populares", disse à Lusa Ezequiel Hermenegildo, um morador, que descreveu a situação como um "caos".

A população saiu à rua para protestar contra o recrutamento "relâmpago e forçado" de jovens, pelas forças governamentais, o que agitou a cidade, tendo queimado pneus na antiga estrada nacional número seis (N6), mas rapidamente a situação se alastrou para o resto dos bairros da Beira. O comércio e transportes públicos estão encerrados.

"O trânsito para o porto da Beira está interrompido desde as 13:00 (11:00 de Lisboa) e o comércio também está interrompido. Há pneus a arder na zona do alto da Manga e Vaz em direção ao aeroporto. Há gente em todo lado a manifestar-se", descreveu um jornalista local.

"Tudo está parado. As pessoas estão a fugir dos seus postos de trabalho, está mesmo instalado um clima de tensão na Munhava e arredores", disse à Lusa ao telefone Manecas Madirige, um morador da Munhava.

Em conferência de imprensa na Beira, Carlos Michone, delegado do centro de recrutamento e mobilização de Sofala, considerou como "desinformação" o recrutamento forçado, assegurando que "não é uma ação do centro de recrutamento".

A província de Sofala é a mais atingida pela tensão político-militar em Moçambique, a pior desde a assinatura dos acordos de Paz em 1992 entre o Governo e a Renamo, que já se saldou em dezenas de mortos e feridos.

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