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Acordo com Irão alivia sanções, mas Israel mantém ameaças

Ficou selado este domingo em Genebra o acordo para limitar o programa nuclear iraniano em troca do alívio das sanções. Obama diz que foi aberto “o caminho para um mundo mais seguro”, enquanto Netanyahu responde que “Israel não está vinculado a este acordo” e repete as ameaças ao Irão.
O jornal "Irão" saúda o acordo histórico de Geneva que permitirá a prazo o fim das sanções ao país. Foto Abedin Taherkenareh/EPA

O acordo entre o governo de Teerão e as potências do grupo 5+1, que inclui os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido) e a Alemanha, foi anunciado na manhã de domingo e tem um prazo de validade de seis meses, para ganhar tempo para um acordo mais amplo. 

O Irão irá continuar a desenvolver o seu programa nuclear, que sofrerá algumas limitações quanto aos níveis de enriquecimento de urânio, já próximos do necessário para desenvolver armas nucleares. Assim, segundo a France Presse, o Irão compromete-se a não enriquecer urânio a partir dos 5% e a desmantelar os processos técnicos que lhe permitem ultrapassar esse limite. Em contrapartida, o seu stock poderá aumentar em mais uma tonelada em relação às sete que dispõe atualmente, acrescenta o New York Times, devendo regressar às sete toneladas no fim do ano. Quanto ao stock de urânio enriquecido a cerca de 20%, será diluído. O país terá ainda de travar a construção de novas centrifugadoras usadas no enriquecimento de urânio, embora possa substituir as cerca de 18 mil já existentes. 

Teerão concordou ainda em não colocar em funcionamento nem alimentar com combustível ou novos componentes o reator construído perto de Arak, que teria capacidade de produzir plutónio. Quanto às inspeções, o Irão irá permitir o acesso diário da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) às centrais de Natanz e Fordow, às minas de urânio ou às fábricas que produzem as centrifugadoras, enquanto disponilizará dados sobre a central de Arak. Mas este acordo fica muito aquém das exigências iniciais da AEIA.

Em contrapartida, para além do sucesso político e diplomático que este acordo representa para um país que ainda há dez anos foi inscrito no “eixo do Mal” pelo então presidente dos EUA George W. Bush, o Irão vê desbloqueados 3 mil milhões de euros relativos às sanções da venda de petróleo, algumas sanções suspensas nos setores do ouro e metais preciosos, automóvel e petroquímicos, o regresso das inspeções e reparações ao material das suas companhias aéreas, um fundo de 400 milhões de euros para financiar estudantes iranianos no estrangeiro e a promessa de facilitação dos laços humanitários com o resto do mundo, ao nível da compra de alimentação e medicamentos. A soma total deste alívio das sanções rondará os 5 mil milhões de euros, mas outras sanções ficam de fora deste levantamento, como as que se dirigem ao setor bancário ou aos programas militares iranianos.

Israel é o grande derrotado de Genebra

Como se esperava, a voz mais crítica deste acordo veio do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu. “O que foi alcançado na noite passada em Genebra não foi um acordo histórico, foi um erro histórico”, disse Netanyahu em conferência de imprensa. Segundo as agências Reuters e France Presse, o primeiro-ministro de Israel disse ao seu governo que não se sentia vinculado ao acordo e voltou a repetir a ameaça de ataque militar ao país, uma opção que agora ficou muito limitada. Na mesma linha, o chefe da diplomacia Avigdor Lieberman, regressado ao cargo após a absolvição das acusações de corrupção, afirmou aos microfones da rádio do exército que “esta é a maior vitória diplomática do Irão desde a revolução de Khomeini e o resultado disto será a corrida às armas”.

Uma opinião diferente foi revelada por um antigo chefe da Mossad na mesma rádio. “Seria ingénuo pensar que os iranianos iam começar de repente a desmantelar centrifugadoras”, disse Efraim Halevy, acrescentando que “a partir de agora haverá inspeções diárias às instalações nucleares. Se os iranianos esconderem essas instalações e forem descobertos, todo o acordo se desfaz; os iranianos vão aparecer como tendo estado a enganar as potências ocidentais e as consequências disso terão um alcance bem maior”. 

Para Barack Obama, “embora o anúncio de hoje seja um primeiro passo, ele conseguiu um grande acordo”. O presidente norte-americano saudou o resultado destas negociações sublinhando que “pela primeira vez em quase uma década, conseguimos travar o progresso do programa nuclear iraniano, e partes essenciais desse programa irão recuar”. Nas palavras do chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, “toda a gente sai a ganhar” com este acordo, enquanto para o homólogo chinês Wang Yi ele “vai ajudar a manter o sistema de não-proliferação nuclear e salvaguardar a paz e a estabilidade no Médio Oriente”. Já François Hollande diz que foi dado “um passo importante na direção certa” enquanto o alemão Guido Westerwelle prefere falar “num ponto de viragem”. 

Presidente iraniano: “O mundo reconheceu o direito do Irão a enriquecer urânio”

Na reação ao acordo deste domingo, o presidente Hassan Rouhani mostrou que as potências mundiais compreenderam finalmente a inutilidade das sanções e que só o respeito pelo seu país pode conduzir a resultados concretos. E sublinhou o valor político deste reconhecimento adicional do direito do Irão a enriquecer urânio, apesar de ele já existir por ser signatário do Tratado de Não-Proliferação.

“O acordo afirma que todas as sanções serão levantadas passo a passo à medida que as negociações avancem”, acrescentou Rouhani, citado pela Press TV, referindo-se quer às sanções da ONU quer às sanções bilaterais dos Estados Unidos e União Europeia. O presidente iraniano diz esperar que essas negociações mais detalhadas avancem de imediato após a assinatura deste acordo.

Numa carta dirigida ao aiatola Ali Khamenei, Rouhani agradeceu o apoio e orientação do líder supremo do país. Khamenei respondeu enaltecendo o trabalho da equipa negociadora em Genebra e pedindo-lhes que continuem a resistir a quaisquer exigências excessivas nas próximas fases negociais.

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