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Angola: Responsáveis do SINSE dizem que diretor demitido é bode expiatório

Segundo o site informativo angolano Clube-K, altos funcionários da direção demissionária do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE) de Angola reuniram-se nesta segunda-feira para apoiar o diretor Sebastião José Martins “Potássio”, demitido pelo presidente José Eduardo dos Santos, e denunciar que este está a servir de “bode expiatório” para encobrir os verdadeiros responsáveis pelo assassinato dos ativistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule.
Os dois ativistas foram raptados e executados por forças do regime, em 2012, no seguimento de uma manifestação de ex-militares, veteranos e desmobilizados, que exigiam a atualização do valor das suas pensões. Segundo um documento a que o Club-K teve acesso, Alves Kamulingue foi detido por tropas da UGP - Unidade da Guarda Presidencial - que o entregaram à Polícia Nacional.
Isaías Sebastião Cassule não compareceu a esta manifestação, mas denunciou a detenção de Kamulingue e foi atraído a uma armadilha e também raptado.
Cassule foi brutamente espancado durante dois dias seguidos, acabando por morrer. O seu cadáver foi atirado ao rio Dande, numa área onde há jacarés.
Kamulingue foi também alvo de torturas e terá sido executado com um tiro na cabeça. Os disparos segundo o documento divulgado, terão sido feitos por um oficial identificado como “Kiko”, suposto sobrinho da Ministra do Ambiente, Fátima Jardim.
Tentativa de abafar o caso
Quando ocorreram as mortes, o diretor-geral do SINSE, Sebastião José António Martins, era também o ministro do Interior. Ao regressar do exterior, tomou conhecimento do caso e tentou um acordo de cavalheiros para abafá-lo.
Com a divulgação do escândalo pelo Club-K, detalhando o assassinato dos dois ativistas, a Procuradoria-Geral da República ordenou a detenção dos envolvidos no rapto. José Eduardo dos Santos exonerou então Sebastião Martins da direção do SINSE, nomeando para o seu lugar o adjunto Eduardo Filomeno Leiro Octávio.
Segundo o Clube-K, os funcionários do SINSE que se reuniram segunda-feira contactaram advogados para defender os colegas implicados no caso, nomeadamente “Kiko”, apontado como o autor do disparo que matou Kamulingue. Eles rejeitam as acusações segundo as quais foram os seus colegas os mentores dos assassinatos e reiteram que foram elementos próximos ao Governo Provincial de Luanda (GPL) que aliciaram o ativista e o levaram para a morte.
Elementos do Governo Provincial telefonaram a dizer que já tinham o “presunto”
Afirmam que foram os supostos elementos do GPL que terão telefonado para o chefe das operações do SINSE de Luanda, Paulo Mota, comunicando que já tinham consigo o “presunto” (termo usado para identificar o cadáver de Isaías Cassule).
Admitem que no momento da execução, estavam presentes Paulo Mota e o delegado do SINSE, António Vieira Lopes, mas que não tinham poder para se opor à Polícia, a quem acusam de responsabilidade pelas mortes.
Dizem ainda que “Kiko” teria inicialmente declinado disparar sobre Kamulinge, mas acabaria por efetuar por ordem de um superior, identificado como “Comandante Dias” que o terá ameaçado, dizendo que a execução era “ordem superior do partido”.
Os responsáveis do SINSE, segundo o Clube-K, afirmam que o discurso de uma alta patente da Inteligência Militar terá sido o responsável pelas mortes, quando disse que, depois da manifestação de 27 de Maio de 2012, era necessário dar um corretivo que servisse de exemplo aos restantes.
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