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Multimilionários duplicam a sua riqueza desde o início da crise

2.170 pessoas possuem o equivalente a 10 por cento do produto bruto mundial. Entre 2009 e 2013, a riqueza dos multimilionários passou de 3,1 biliões de dólares a 6,5 biliões de dólares, um valor próximo a 45% do PIB dos Estados Unidos. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón
O Iate Lady Moura (aqui no porto de Mónaco) é o 24º maior do mundo. Os 2.170 multimilionários do mundo têm 48.000 milhões de dólares em iates, ou uma média de 22 milhões de dólares cada um. Foto de domínio público

Apesar de grande parte do mundo ter sofrido uma redução drástica dos seus rendimentos, a riqueza dos multimilionários duplicou desde o início da crise. É o que consta num relatório publicado pela Wealth X and UBS, uma consultora que rastreia os indivíduos super-ricos. De acordo com este relatório, a riqueza dos multimilionários do mundo passou de 3,1 biliões de dólares no ano de 2009 a 6,5 biliões de dólares em 2013, valor próximo a 45% do PIB dos Estados Unidos, a maior economia do mundo. O número de milionários passou de 1.360 no ano 2009 a 2,170 em 2013. Estas 2.170 pessoas possuem uma riqueza equivalente a 10 por cento do produto bruto mundial.

O grande enriquecimento destes multimilionários foi impulsionado pelo auge dos mercados de valores e o dinheiro fácil com que a Reserva Federal e o Banco Central Europeu resgataram o sistema financeiro desde o seu colapso em 2008/2009. Este processo intensificou-se com os planos de flexibilização quantitativa e as baixas taxas de juros da Fed, do BCE e do Banco Central do Japão. Na semana passada, o Banco Central Europeu reduziu a taxa de juros para metade, de 0,5% a 0,25%, enviando uma nova onda de liquidez para os mercados financeiros.

Estas ondas de liquidez injetadas no coração do sistema financeiro não fazem nada pela economia real e só ajudam a limpar os balanços da banca do lixo tóxico gerado pelos seus empréstimos fraudulentos. O aumento da riqueza neste sector reflete o crescimento parasitário do sistema financeiro na economia mundial. Dezassete por cento dos multimilionários enriqueceram-se através das finanças, da banca e dos setores de investimento, enquanto oito por cento estão associados às empresas de manufaturas.

Em direta assimetria com a duplicação do rendimento dos mais ricos, os serviços sociais de saúde, educação e proteção social para 99% da população estão a sofrer fortes cortes na Europa, nos Estados Unidos e no resto do mundo. Isto indica que enquanto os mais ricos aumentam a sua riqueza com o aumento do desemprego e a contração da procura, assistimos à formação de um mundo cada vez mais polarizado entre ricos muito ricos e pobres muito pobres.

Propriedades, joias, iates e jatos

Além de analisar a riqueza dos multimilionários do mundo, o relatório documenta as grandes quantias gastas pelos multimilionários em artigos de luxo. A Wealth X e UBS elabora um detalhado estudo do que procuram estes multimilionários. Um exemplo: têm perto de 126.000 milhões de dólares em iates, jatos privados, obras de arte, antiguidades, moda, joias e carros de coleção. Este valor é maior que o Produto Interno Bruto do Bangladesh, um país de 150 milhões de pessoas.

Os 2.170 multimilionários do mundo têm 48.000 milhões de dólares em iates, ou uma média de 22 milhões de dólares cada um. Para pôr esta quantia em perspetiva, as Nações Unidas estimam que para acabar com a fome no mundo teria de se fazer um investimento de 30.000 milhões de dólares por ano. O relatório estima que os ativos imobiliários dos multimilionários do mundo é de 169 mil milhões de dólares, uma média de 78 milhões de dólares por pessoa. Como resume o relatório, “O multimilionário médio tem quatro grandes casas, cada uma avaliada em quase 20 milhões de dólares”. O relatório acrescenta: “O tempo e o espaço são raramente limites para os multimilionários do mundo, muitos dos quais têm um jato privado ou dois, um super iate e outros meios cómodos e rápidos de transporte, para não falar de várias casas espalhadas por todo o mundo.”

Apesar da sua mobilidade, os multimilionários do mundo reúnem-se em redor das principais cidades financeiras, como Nova York, que conta com 96 multimilionários, seguida de Hong Kong com 75, Moscovo com 74 e Londres com 67. Se a riqueza dos multimilionários da cidade de Nova York fosse dividida pelos 1,7 milhões de habitantes pobres da cidade, cada um obteria 170 mil dólares.

Este estrato social existe como um enorme ónus para a sociedade mundial, sem produzir nada de valor, mas monopoliza grandes recursos. Não só são vastos os recursos sociais dedicados ao seu enriquecimento pessoal, como também o seu domínio sobre a vida económica e política atua como barreira a qualquer solução racional para os grandes problemas que enfrenta a humanidade. Os super-ricos controlam todos os aspetos da vida política em todo mundo, com consequências desastrosas. Este é o resultado inevitável do atual sistema capitalista, que trata a riqueza dos multimilionários como sacrossanta, e as necessidades da população, como a educação, a moradia e a assistência de saúde, como prescindíveis.

14 de novembro de 2013

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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