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Irlanda: por causa da austeridade, 7 mil pessoas emigram por mês

O governo e a Comissão Europeia dizem que a austeridade resolveu a crise da Irlanda, mas a realidade é bem diferente, disse ao Esquerda.net Lynn Boylan, dirigente do Sinn Féin. A verdade é que todos os meses saem do país 7.000 pessoas, principalmente jovens que não têm emprego. A emigração voltou aos níveis dos anos 1980.
Lynn Boylan: a austeridade não resultou. Foto de Luis Leiria

A Comissão Europeia e os média afirmam que a austeridade funcionou na Irlanda; é verdade?

Tudo depende da perspetiva. Se se acredita em reduzir salários e piorar as condições de trabalho para benefício dos grandes negócios, então a austeridade está a resultar muito bem na Irlanda, mas, na nossa perspetiva é um total fracasso. Temos um desemprego que está, a nível global, nos 12-13% e chega a 30% entre os jovens. O resultado é que a emigração cresceu explosivamente. O governo afirma que o desemprego está a descer, mas o facto é que uma grande parte dessa redução tem a ver com as pessoas que estão a sair do país e também com as que aceitam subempregos – trabalham em part-time, não porque queiram, mas porque é o que conseguem obter.

Além disso há o problema das hipotecas que explodiu na crise financeira de 2009. Ninguém quer falar muito nisso, mas o problema não foi resolvido. Não há recuperação económica na Irlanda. Mais e mais pessoas deixam de poder pagar as hipotecas, o desemprego caiu, mas apenas marginalmente. Basta falar com as pessoas na rua para ver que a austeridade não resultou nem está a resultar, o povo está a sofrer muito.

A emigração subiu na Irlanda? É um fenómeno semelhante ao português...

Sim, cerca de 7000 pessoas estão a sair da Irlanda por mês, são números fenomenais. Todos os dias abandonam o país e são principalmente jovens, muitos que concluíram um curso universitário e não conseguem emprego. Vão para a Austrália, o Canadá, os Estados Unidos e o Reino Unido, países a que dão preferência por causa da língua. A emigração voltou ao nível dos anos 80 do século passado.

E como ficou a dívida da Irlanda?

Há um aumento enorme do serviço da dívida, que querem que seja paga por gerações. E a reestruturação da dívida da Irlanda foi descartada pelo governo, que não vai sequer iniciar negociações. Dizem que o pagamento do serviço da dívida funciona e afastam qualquer possibilidade de reestruturá-la.

Quais são as propostas do Sinn Féin?

Lutar para que a haja uma renegociação da dívida, e também pela introdução de um imposto sobre a riqueza, porque o que verificamos é que há um crescimento da riqueza e do número de ricos, na ponta do espectro, e isto apesar da crise. O Sinn Féin quer fazer uma reforma fiscal, de forma a tornar os impostos mais progressivos e investir no emprego para a juventude. 

Artigo alterado em 18/11 para corrigir um lapso nos dados da emigração irlandesa: 7 mil por mês, não por semana.

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Jornalista do Esquerda.net
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