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“As previsões meteorológicas são muito mais fiáveis do que as da troika”

Na auditoria de uma comissão do PE à avaliação das intervenções das troikas, Marisa Matias salientou ainda que "à medida que se vão esgotando os prazos de intervenção da troika nos diferentes países torna-se cada vez mais claro que não só a austeridade é um fracasso total". O enviado da equipa de Barroso teve o descaramento de dizer que em Portugal a troika presta serviços sociais, incluindo a melhoria da prestação de cuidados de saúde.
Marisa Matias afirmou: "A troika cozinha, os governos aceitam as ordens e os cidadãos ficam de fora de qualquer um dos processos"

"A troika cozinha, os governos aceitam as ordens e os cidadãos ficam de fora de qualquer um dos processos", afirmou hoje a eurodeputada Marisa Matias, durante a audição organizada pela comissão de assuntos económicos e monetários do PE, para avaliação das intervenções nos países em crise, referindo-se à falta de democracia nos chamados programas de ajustamento.

"À medida que se vão esgotando os prazos de intervenção da troika nos diferentes países torna-se cada vez mais claro que não só a austeridade é um fracasso total, como se torna cada vez mais claro que não vai resultar com esta receita", continuou a deputada do Bloco de Esquerda. E perante os indicadores trazidos pelos oradores, Klaus Masuch (BCE) e Servaas Deroose (Comissão Europeia), Marisa Matias contrapôs com os números resultantes da aplicação do programa de ajustamento em Portugal, referindo a quebra do PIB em 6%, os mais 300.000 desempregados, as mais de 350 pessoas que abandonam diariamente o país para procurar emprego.

"Comparado com as previsões da troika, todos os meteorologistas do mundo estão absolvidos, porque as previsões meteorológicas são muito mais fiáveis do que as da troika" continuou a deputada. Se dúvidas houvesse sobre a intenção destes programas, bastaria ouvir a intervenção do representante da Comissão Europeia, Servaas Deroose, para saber que "o programa da troika não é para cumprir metas mas para aproveitar a crise como pretexto para entregar ao setor financeiro aquilo que é o património público e o dinheiro dos trabalhadores e dos pensionistas, e disse-o quando afirmou que se tratava de “transferir de um sector público muito pesado para um sector privado", continuou Marisa Matias, que terminou a sua intervenção confrontando-o com a questão: "quando é que vai admitir [de forma direta] que o programa da troika não é cumprir as metas mas fazer o ajustamento ideológico na sociedade europeia."

Servaas Deroose, que é atualmente o chefe de missão da Comissão Europeia no programa de intervenção em Espanha, sobre a ausência do FMI desta conferência respondeu que "têm que perguntar ao FMI, ao que sei as audições públicas não estão incluídas nas regras do FMI". Sobre o mandato da troika, respondeu que a troika age em cumprimento do mandato que tem dos Estados Membros e do Eurogrupo, "todos os governos estão envolvidos nas decisões que tomamos" referindo ainda que "a troika tem flexibilidade e isso tem-se visto com Portugal, o governo traz propostas que são incorporadas.". E face à acusação de destruição do estado social, afirmou: "a troika tem muitas medidas sociais, uma delas é na prestação dos cuidados de saúde que estão a ser melhorados nos países sob intervenção."

À saída da conferência, Marisa Matias concluiu: "se é de avaliação que estamos a falar, a conclusão é simples: toda esta destruição não serviu para nada. A dívida continua a subir. Ainda hoje tivemos notícia da triste intervenção de Nuno Crato que assumiu que a dívida era impagável, ao afirmar que só poderíamos pagar a dívida se todos os portugueses trabalhassem um ano sem comer. Ainda hoje a Comissão disse que sem medidas extraordinárias o défice português continuaria a aumentar. Nenhuma meta foi cumprida. Os dados mostram-nos um falhanço retumbante. Desde as medidas até ao exemplo. Jurgen Kroger que chefiou a missão da troika em Portugal reformou-se aos 61 anos depois de ter feito o seu papel em Portugal, em conivência com o governo, de aumentar a idade de reforma para os 66 anos. E estes senhores que todos os dias destroem mais um pouco do estado social, ainda dizem, orgulhosos com a sua obra, que o estão a melhorar."

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