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EDP corta a luz a muitas casas do Bairro do Lagarteiro – Moradores recusam ficar às escuras

Técnicos da EDP, acompanhados de forte dispositivo da PSP, cortaram a luz a dezenas de casas do Bairro do Lagarteiro, no Porto, por atrasos no pagamento. As pessoas dizem que já não têm dinheiro para pagar. À noite, muitos moradores recusaram ficar às escuras e fizeram ligações clandestinas. Bloco pergunta ao Governo se considera aceitável “que pessoas em situação de emergência social fiquem sem acesso a energia elétrica”.
Técnicos da EDP, acompanhados de forte dispositivo da PSP, cortaram a luz a dezenas de casas do Bairro do Lagarteiro, no Porto. Bloco pergunta ao Governo se considera aceitável “que pessoas em situação de emergência social fiquem sem acesso a energia elétrica”.

Segundo o jornal “Público”, a luz terá sido cortada a mais de cem pessoas.

À comunicação social, muitas pessoas, que vivem no bairro e a quem foi cortada a luz, dizem que não pagam por que não podem. Uma moradora de 51 anos, operada pela quarta vez a um joelho disse à Lusa: "Em minha casa vivemos oito pessoas, cinco adultos e três crianças. O meu marido e os meus filhos recebem 55 euros no total de Rendimento Social de Inserção e eu recebo 234 de subsídio de desemprego, sendo que me descontam 150 de uma dívida. Agora veja como vivo. Não tenho dinheiro para comer, como vou ter dinheiro para pagar a eletricidade?"

Os técnicos da EDP chegaram ao bairro por volta das 10 h da manhã, acompanhados de forte dispositivo policial. Ao “Público”, a presidente da Associação de Moradores do Lagarteiro, Fernanda Gomes, diz: “Não somos marginais, nem delinquentes. Três carrinhas e dois carros-patrulha da PSP para nós? Estavam aqui mais de 40 polícias. Isto foi pior do que uma rusga”.

À noite, muitos moradores, em pequenos grupos, foram fazendo ligações clandestinas. Um morador disse ao “Público": “Há muitas pessoas que têm dificuldades, comida guardada, filhos deficientes e precisam da eletricidade para viver. Andamos a ligar, claro. Conforme conseguimos.”

Outro morador disse à Lusa: "Agora é viver um dia a seguir ou outro. Se amanhã for preciso faço outra vez ligação ilegal para ter alguma dignidade para viver... prendam-me então".

Para a EDP, o problema não passa de “uma tendência de crescimento das fraudes” e os cortes no Lagarteiro foram “de algumas ligações indevidas bem como do fornecimento de energia elétrica aos clientes cujo pagamento não foi efetuado aos comercializadores com quem esses clientes tinham celebrado contrato”.

Para o Bloco de Esquerda, que questionou o Governo (ver texto na íntegra), o “Bairro do Lagarteiro tem sido esquecido demasiadas vezes” e “a situação vivida hoje pelos habitantes do Bairro do Lagarteiro é absolutamente incompatível com uma sociedade decente”.

O Bloco critica a EDP por interromper o fornecimento de um serviço, que é um bem essencial, “de forma massiva, completamente indiferente à situação social das famílias atingidas”.

O grupo parlamentar bloquista pergunta ao Governo que “medida urgente” vai tomar “para garantir que os habitantes do Bairro do Lagarteiro voltam a ter energia elétrica nas suas habitações”, se “considera aceitável que pessoas em situação de emergência social fiquem sem acesso a energia elétrica” e se “considera aceitável que a EDP corte a energia a habitações sem ter em conta se lá moram crianças, idosos, pessoas portadoras de deficiência ou doentes”.

O Bloco defende que “é fundamental que o Governo aja no sentido de repor a energia elétrica e em conjunto com os serviços e técnicos que atuam neste bairro, analise as situações concretas, família a família e encontre as soluções mais adequadas, nunca colocando em causa o acesso a bens essenciais”.

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