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Espionagem: Aumenta a irritação de Berlim com Washington

Berlim subiu o tom de resposta este domingo, advertindo Washington que as embaixadas e os diplomatas em solo alemão devem respeitar a lei alemã, que determina que as escutas telefónicas ilegais são crime. Em causa estão relevações que dão conta que os EUA espiaram Schröder e Merkel desde 2002. SPD, Die Linke e Verdes exigem comissão de inquérito para investigar espionagem americana.
Angela Merkel exibindo o seu telemóvel "seguro".

As notícias sobre as escutas ao telemóvel de Merkel, durante mais de uma década, feitas através da embaixada americana em Berlim – com conhecimento, pelo que tem sido apurado, do Presidente norte-americano, Barack Obama – levou o titular da pasta dos negócios estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, a reagir.

Através de um comunicado divulgado à imprensa, o ministro relembra que "em solo alemão manda a lei alemã", uma frase pronunciada já por Merkel no passado verão, tendo deixado claro que esta máxima é válida para todos: "para alemães e estrangeiros, para cidadãos e empresas e também para diplomatas e embaixadas".

Westerwelle, que na quinta-feira passada convocou o embaixador norte-americano em Berlim - um gesto diplomático inédito entre os dois países-, adiantou que em Washington compartilha-se deste ponto de vista.

"A espionagem entre amigos e aliados não é aceitável", insistiu uma vez mais, antes de acrescentar que, como se está a comprovar, estas práticas "são politicamente muito prejudiciais".

A espionagem, "ameaça minar os laços" que unem os dois países e concluiu: "nem tudo o que é tecnicamente possível é necessariamente politicamente razoável".

O comunicado foi tornado público após duras declarações do ministro do Interior alemão, Hans-Peter Friedrich, que realçou numa entrevista ao Bild am Sonntag que "espiar é um delito e os responsáveis devem responder por isso", pois pressupõe uma violação da soberania nacional.

"Se os norte-americanos rastreiam telefones na Alemanha, infringem a lei alemã em território alemão", afirmou Friedrich, criticado pela oposição por ter dado como encerrada a discussão sobre espionagem da NSA depois de ter viajado para Washington no verão. Recorde-se, que na altura foram publicadas informações sobre supostas escutas em massa a cidadãos, governos e instituições europeias, das quais os alemães não estavam ilesos.

As suas palavras acompanhavam as novas revelações sobre a espionagem ao telemóvel de Merkel.

Obama pediu relatório completo sobre a chanceler alemã

Citando fontes dos serviços secretos dos Estados Unidos, o Bild am Sonntag revelou neste domingo que Obama foi informado das escutas pelo diretor da Agência Nacional de Segurança (NSA), Keith Alexaner, em 2010, e não pediu para se suspender o programa e chegou a solicitar um relatório completo sobre a chanceler.

Obama não obstante, segundo a imprensa alemã, garantiu na quarta-feira por telefone a Merkel que não tinha conhecimento da espionagem e que, se o soubesse, tê-lo-ia parado.

O governo federal alemão já anunciou que enviará nos próximos dias uma delegação "de alto nível" aos Estados Unidos para recolher dados a partir da Casa Branca e dos serviços de espionagem.

Segundo a edição do Bild deste domingo, a NSA não só espiou o telemóvel do partido que Merkel usou até ao passado mês de julho, como chegou a rastrear o telefone aparentemente seguro que começou a usar este verão.

A informação reunida na embaixada americana em Berlim - onde trabalham 18 agentes da NSA - foi enviada diretamente à Casa Branca, sem passar primeiro, como é habitual, pela sede da agência em Fort Meade (Maryland).

Estes detalhes completam a extensa informação publicada pelo semanário Der Spiegel, que indica que o telemóvel de Merkel aparece na lista de objetivos da NSA desde 2002, três anos antes de ter ganho as eleições.

Nesse ano começou também a espionagem ao então chanceler, Gerhard Schröder, segundo o Bild am Sonntag.

A espionagem começou com Bush na Casa Branca

O programa foi posto em marcha durante o mandato de George W. Bush, quando Schroeder recusou que as tropas alemãs participassem na guerra do Iraque.

O escândalo tem também as suas repercussões internas na Alemanha, onde Merkel negoceia com o Partido Social-democrata (SPD) a formação de um bloco central.

Depois de vários dias praticamente calados, os social-democratas juntaram-se neste domingo à petição do Die Linke  e dos Verdes que propõe a criação de uma comissão parlamentar de inquérito.

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