Depois do ministro dos Negócios Estrangeiros ter sido apanhado a mentir numa carta aos deputados, em que negava ter sido acionista da Sociedade Lusa de Negócios quando foi detentor de milhares de ações da empresa, desta vez foi Cavaco Silva a "esquecer-se" do seu passado acionista da sociedade presidida por Oliveira e Costa. Em 2001, Cavaco e a filha adquiriram 255.018 ações da SLN ao preço unitário de um euro, cabendo 105.378 ações ao atual Presidente da República.
Os títulos da SLN não estavam cotados em bolsa e era o presidente da empresa que definia o valor de compra e venda de cada ação, o que motivou excelentes negócios para o seu círculo próximo, conseguindo uma valorização inexplicável face à evolução do mercado. A 17 de novembro de 2003, dois anos depois da compra, Cavaco solicitou a Oliveira e Costa para que procedesse à venda das ações, tendo a sua filha formalizado idêntico pedido. O ex-secretário de Estado de Cavaco Silva procedeu à recompra das ações pelo valor de 2,4 euros, ou seja, uma valorização de 140% pelos dois anos de investimento.
Esta quinta-feira, em resposta às declarações de Mário Soares, que questionou na véspera porque não tinha Cavaco Silva sido julgado pelo caso BPN, o Presidente da República enviou um comunicado à agência Lusa dizendo que Soares "devia saber que esclareci, em devido tempo, que nunca tive qualquer relação com o BPN ou com as suas empresas, a não ser a de depositante para aplicação de poupanças, quando era professor universitário".
Ora, no único esclarecimento dado em 2008 pelo próprio Cavaco Silva, o Presidente tentou fazer crer que a decisão de comprar títulos da SLN - que não estavam cotados em bolsa - não teria sido sua, mas do banco que geria a sua conta. No entanto, a divulgação de documentos assinados por si e dirigidos a Oliveira e Costa, solicitando a compra e a venda das ações - e o facto da sua filha o ter seguido nessas operações, aproveitando as vantagens oferecidas pelo dono do BPN - acaba por retirar o crédito a essa versão.