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Nito Alves: A coragem que nos salva, por José Eduardo Agualusa

"Um regime que prende adolescentes pelo crime de pensarem, pois disso se trata, é um regime condenado ao falhanço" escreve José Eduardo Agualusa a propósito da detenção de Nito Alves, há mais de um mês sem contacto com a família ou com um advogado. Publicado no site Maka Angola.
O mais jovem preso político angolano chama-se Nito Alves, tem 17 anos e está há mais de um mês sem acesso a advogado nem assistência médica. Foto publicada em Maka Angola

Nito Alves tem 17 anos de idade e desde os 15 tem publicado um mural público no seu bairro, afixando notícias desagradáveis para o regime de José Eduardo dos Santos, que não se publicam na imprensa oficial. Participou nos protestos dos jovens pela demissão do presidente angolano e sofreu por várias vezes com a repressão da polícia. Foi preso no dia 11 de setembro pelo crime de ultraje ao presidente. Nito é acusado de ter encomendado 20 camisolas com uma frase estampada "José Eduardo Fora! Ditador nojento". 

Segundo o site Maka Angola, que resume as mensagens que Nito tem conseguido transmitir para fora das paredes da sua cela, o mais jovem preso político angolano foi colocado em solitária durante vários dias após a detenção. Para além das recorrentes ameaças de morte por parte de agentes da polícia de investigação criminal, queixa-se de lhe ser negada assistência médica, apesar das febres, vómitos e diarreia.

José Eduardo Agualusa, recém-galardoado com o Prémio Literário Fernando Namora pelo romance "Teoria Geral do Esquecimento", escreveu este texto sobre a situação de Nito Alves, a quem agradece pela coragem:

Tenho um filho de 16 anos. Ao ler a notícia sobre a prisão do jovem Nito Alves, que tem 17, não pude deixar de pensar que poderia ser meu filho. Alguns dos meus melhores amigos tinham 16 e 17 anos quando foram presos, a seguir à independência, por ligações a pequenos grupos de extrema esquerda. Um regime que prende adolescentes pelo crime de pensarem, pois disso se trata, é um regime condenado ao falhanço.

Um governo sério, preocupado com o desenvolvimento do país, encoraja os jovens a pensarem. Jovens capazes de pensar por si, isto é, de pensarem diferente, até mesmo de pensarem contra os padrões dominantes, devem ser encorajados e premiados. Uma sociedade democrática avança mais rapidamente do que uma sociedade amordaçada por uma ditadura na exacta medida em que é empurrada pelas ideias novas.

Posso não concordar, e não concordo, com os termos em que o jovem Nito Alves expressou a sua revolta. Contudo, a revolta dele também é a minha. A coragem, essa, é só dele.

Acontece que enquanto a cobardia de José Eduardo dos Santos nos envergonha a todos, angolanos, a coragem do jovem Nito Alves nos salva e enobrece. Meu filho Nito Alves – nosso filho – muito obrigado!

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