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José Eduardo dos Santos anuncia fim de parceria estratégica com Portugal

Durante o discurso sobre o estado da Nação, na Assembleia Nacional de Angola, o presidente angolano invocou “incompreensões ao nível da cúpula e o clima político actual” para justificar o fim de parceria estratégica com Portugal. O líder parlamentar do Bloco acusou o governo de "não se dar ao respeito" porque não soube dizer que "Portugal é um Estado de Direito que deve ser respeitado como tal”. Notícia atualizada às 17h42.
Foto de Paulo Novais, Epa/Lusa.

A tentativa incessante por parte do governo PSD/CDS-PP no sentido de  agradar o governo angolano, sobre o qual recaem inúmeras acusações de corrupção e violação dos direitos humanos, parece ainda não ser suficiente para satisfazer José Eduardo dos Santos.

Nem o pedido de desculpas do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, a Angola, por existirem figuras do regime sob investigação pela justiça portuguesa, e nem mesmo a nomeação para funções de diplomacia económica no governo de Passos Coelho, na área das “relações com países lusófonos”, de Paulo Pereira Coelho, administrador do grupo angolano Finertec, e ex-deputado e ex-governante do PSD, impediram José Eduardo dos Santos de anunciar o fim da parceria estratégica com Portugal.

"Só com Portugal, as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político atual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada", afirmou José Eduardo Santos.

Este anúncio surge após a publicação, pelo Jornal de Angola, de um conjunto de editoriais sobre as relações lusa-angolanas nos quais é referido que existe uma "campanha contra Angola” que “partiu do poder ao mais alto nível", na sequência da abertura de inquéritos na Procuradoria-Geral da República portuguesa visando figuras próximas do presidente angolano.

Em fevereiro, o então ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas anunciou, à saída de um encontro com José Eduardo dos Santos, em que participou também o ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chicoti, a realização, em 2013, da primeira cimeira bilateral em Luanda, onde seriam apresentados “avanços concretos na cooperação dos dois países”.

À época, o ministro das Relações Exteriores angolano garantiu que Angola estava interessada no programa de privatização de empresas portuguesas, e estava a preparar-se para comprar.

Após o anúncio de José Eduardo dos Santos sobre o fim da parceria estratégica, Georges Chicoti, citado pela agência Angop, alertou que Portugal deve esforçar-se para melhorar as relações com Angola.

Governo reitera a importância do bom relacionamento entre Portugal e Angola

"O Governo português tem defendido e praticado uma consistente atividade visando o estreitamento da relação especial com o Governo angolano. De facto, os laços particulares que unem os dois povos e as duas nações mais do que justificam essa prioridade da política externa portuguesa", lê-se num comunicado do executivo PSD/CDS-PP divulgado esta terça feira pelo gabinete de Pedro Passos Coelho.

"Até por isto, e apesar da surpresa com que escutou as referências feitas hoje pelo senhor Presidente José Eduardo dos Santos à situação da relação entre os nossos dois países, o Governo reitera a importância que tem atribuído e continua a atribuir ao bom relacionamento entre Portugal e Angola e ao alcance estratégico para angolanos e portugueses desse bom relacionamento aos mais diversos níveis", refere o documento.

“Quem não se dá ao respeito não é respeitado”

Segundo o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, o ditado popular “Quem não se dá ao respeito não é respeitado” é “factual e verdadeiro neste contexto, porque Portugal não se deu ao respeito porque não soube dizer que é um Estado de Direito e que deve ser respeitado como tal”.

“E, ao não se dar a esse respeito, é agora, na prática, pressionado e novamente desrespeitado pelo regime angolano”, frisou o dirigente bloquista.

Lembrando que “o Governo dizia que queria manter o ministro Rui Machete devido às relações com Angola”, Pedro Filipe Soares defendeu que “agora [o executivo] já não tem argumentação nenhuma para manter este ministro, antes pelo contrário”.

“Se há conclusão que devemos tirar é que é a desastrosa condução de todo este processo que está também a ser agora colocada sobre o crivo da crítica”, avançou o líder parlamentar do Bloco.

Pedro Filipe Soares reforçou que o anúncio de José Eduardo dos Santos é um “desrespeito sobre um Estado de Direito que é Portugal” e constitui “uma pressão sobre aquela que é a nossa perspetiva de separação de poderes”.

“A lei é para todos, todos devem cumprir a lei”, frisou.

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