Regime angolano ganha peso no Governo português

14 de October 2013 - 14:57

Paulo Pereira Coelho, administrador do grupo angolano Finertec, ex-deputado e ex-governante do PSD, foi nomeado para funções de diplomacia económica no governo de Passos Coelho, na área das “relações com países lusófonos”. Depois do escândalo Machete, o governo procura agradar a Luanda.

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Durao Barroso ladeado de Dias Loureiro e Paulo Pereira Coelho festejam no final do almoco em que se comemoraram os 28 anos do PSD. FOTO PAULO NOVAIS/LUSA

Paulo Pereira Coelho, administrador no grupo angolano Finertec - ligado à Fundação Eduardo dos Santos -, regressa ao Governo a “custo zero”. Segundo o despacho, será "técnico especialista a exercer funções na área da diplomacia económica, focado nas relações com países lusófonos".



A nomeação de Paulo Pereira Coelho surge numa altura em que as relações entre os Estados português e angolano estão especialmente tensas, depois do pedido de “desculpas diplomáticas” de Rui Machete pelas investigações em curso na justiça portuguesa a casos de corrupção envolvendo altas patentes do regime angolano.



A nomeação de Pereira Coelho, homem de confiança do regime de Luanda, é uma tentativa de demonstrar que os grandes negócios e os capitais angolanos em Portugal são a prioridade por vontade do executivo.



O despacho de nomeação foi assinado na passada sexta-feira, pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, que responde diretamente a Rui Machete.



Paulo Pereira Coelho foi deputado do PSD entre 1986 e 2009, secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna no Governo de Santana Lopes e Paulo Portas e secretário de Estado da Administração Local no Governo de Durão Barroso.



As ligações poderosas da Finertec



Desde 2008 que a Finertec vem reforçando as suas relações políticas em Portugal. Começou por contratar Miguel Relvas, que foi administrador do grupo até integrar o Governo. Em Angola, ficou Paulo Pereira Coelho. Depois de passar pela presidência da fábrica de Trefilaria da Mota-Engil Angola, Pereira Coelho acumula hoje o lugar de administrador da Comfabril (grupo Finertec) com a presidência do Conselho Fiscal da seguradora angolana Universal (70% da CGD; 30% de capital angolano anónimo).



O currículo dos principais responsáveis da Finertec esclarece as ligações diretas aos círculos da presidência angolana. O presidente da Finertec é José Braz da Silva, português com negócios em Angola há mais de vinte anos. Dirigiu o Santos Futebol Clube, propriedade da Fundação Eduardo dos Santos, e, quando se apresentou pré-candidato à presidência do Sporting em 2011, divulgou os seus apoios: Botelho Vasconcelos, ministro dos Petróleos de Angola; Hélder Pitta Gróz, vice-procurador geral da República de Angola; e João Pereira da Silva, ex-ministro da Economia de Cabo Verde (A Bola, 2.2.2011).



Pelo seu lado, António Maurício é vice-presidente da Fundação Eduardo dos Santos, presidente da Suninvest, braço empresarial da fundação e parceira da Sonangol em vários empreendimentos. Hoje, é administrador da Finertec e presidente da Construtora do Tâmega, detida pelo grupo.



Quando Relvas foi para o Governo, o seu lugar na Finertec foi ocupado por Marcos Perestrello, antigo braço direito de António Costa em Lisboa e hoje vice-presidente da bancada parlamentar do PS. Em Novembro de 2011, a Finertec comprou 20% da Fomentinvest Ambiente, de Ângelo Correia (Diário Económico, 22.11.2011).



Segundo o Africa Monitor, Paulo Pereira Coelho está entre as amizades de longa data de Carlos Silva, vice-presidente angolano do BCP indicado pela Sonangol. Neste círculo próximo estará também o ex-ministro Miguel Relvas.

Tecnoforma: a empresa de Passos Coelho e os favores de Miguel Relvas e de Paulo Pereira Coelho

Nos últimos governos laranjas, Paulo Pereira Coelho era já um destacado e influente ator em negócios e acordos de legalidade muito duvidosa. 

Em 2004, foi aprovado um projeto de 1,2 milhões de euros, destinado a formar centenas de técnicos municipais para trabalharem em sete pistas de aviação, uma boa parte delas encerradas, e em dois heliportos na região Centro. As pistas tinham no geral cerca de dez funcionários.



Em 2012, o jornal Público dava conta que “a Tecnoforma, empresa de que Passos Coelho foi consultor e depois gestor, conseguiu fazer aprovar na Comissão de Coordenação Regional do Centro (CCDRC), em 2004, um projeto financiado pelo programa Foral para formar centenas de funcionários municipais para funções em aeródromos daquela região que não existiam e nada previa que viessem a existir”. O diário explicava ainda que semelhante candidatura seria rejeitada nas restantes quatro regiões do país “por não cumprirem os requisitos legais”.

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O programa Foral estava sob a alçada de Miguel Relvas, na altura secretário de Estado da Administração Local, e na região Centro o gestor do programa Foral era Paulo Pereira Coelho, presidente da CCDRC.