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O País responde?

Pedro foi uma espécie de descodificador da atividade governamental para as pessoas, para o comum dos mortais.

Foi bonito ver o primeiro-ministro a responder às perguntas dos cidadãos no novo programa da RTP. Durante 90 minutos, num tom sério, pedagógico e com alguma informalidade, Pedro falou com as pessoas, explicou-lhes as políticas do seu Executivo. E demonstrou-lhes as razões de não estar a fazer o que por vezes lhes parece evidente. Pedro foi uma espécie de descodificador da atividade governamental para as pessoas, para o comum dos mortais. Do preço das passagens aéreas nos Açores, aos apoios dos jovens agricultores, dos problemas dos jovens médicos às preocupações das famílias com mais filhos, passando pelo preço dos combustíveis e pela impossibilidade de listas independentes se candidatarem à Assembleia da República, tudo se abordou naqueles 90 minutos.

Não é necessário ser-se um especialista para perceber que estes programas resultam em grandes momentos de comunicação para o “questionado” pelo país. Para um ator político, habituado aos palcos parlamentares, aos debates acessos com os seus oponentes, acaba por ser fácil responder a perguntas que lhe são feitas pela Teresa, pelo João ou pela Maria. Mesmo que devidamente formuladas, como foi o caso, o modelo de pergunta-resposta acaba por permitir que o questionado brilhe facilmente. Não estando previsto o debate, a possibilidade de contra-pergunta, a estaleca de primeiro-ministro chega e sobra para dar conta do recado.

Mas, da mesma forma que permitiu que o Pedro brilhasse, o novo programa da RTP demonstrou também que o Governo continua a não considerar qualquer caminho alternativo ao rumo seguido. É aliás o primeiro negador da existência sequer de alternativas. Porque, na visão dos protagonistas governamentais, tudo o que está a ser feito tem a sua razão de ser. Tudo o que está a ser aplicado, por mais doloroso que seja, justifica-se e pronto. E trocado por miúdos, o raciocínio anda sempre à volta de simplicidades como: “estamos em crise, não há dinheiro”, “nós nem gostamos do que estamos a fazer, mas tem de ser” ou, o argumento dos argumentos, “se o Governo falhar, o país falha”. Poderoso, não?

Para além de ser um bom palco para fazer brilhar quem há muito perdeu a chama, o programa da RTP veio demonstrar que, com mais ou menos maquilhagem, com mais ou menos remodelações governamentais, com mais ou menos trapalhadas, continuamos a ter em São Bento um Governo inabalável no rumo a seguir. Um Governo que considera que se a receita não está a funcionar, é porque a dose não foi suficientemente forte. Se a realidade não corresponde às suas ideias, se apresenta um país de rastos, maltratado, em coma, é porque a realidade está errada.

A pergunta evidente que se coloca neste momento: o País responde?

Sobre o/a autor(a)

Politólogo, autor do blogue Ativismo de Sofá
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