João Camargo

João Camargo

Investigador em Alterações Climáticas. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990

A crise climática já não é uma previsão futura mas uma sucessão presente de catástrofes esperadas e cada vez mais devastadoras, em todos os territórios, enquanto o aparelho económico, político e cultural do capitalismo revela que nem sequer tem um plano maquiavélico.

Todas as tecnologias são simplesmente cooptadas pela estrutura de poder vigente para reforçar o status quo.

A refinaria é a infraestrutura com mais emissões de gases com efeito de estufa do país, sendo por isso naturalmente uma estrutura cujo encerramento ou transformação faz parte de planos mínimos para travar os piores cenários da crise climática.

De hoje em diante o movimento pela justiça climática tem de olhar para a COP como o movimento antiglobalização olhava para a Organização Mundial do Comércio ou para o G20.

O mais recente relatório da Convenção-Quadro para as Alterações Climáticas revela que os cortes propostos pelos governos para o Acordo de Paris prevêem um aumento de emissões de 16,3% até 2030, quando o mínimo seria um corte de 45 a 55%.

A desflorestação, em particular nos países mais pobres, aqueles com processos de industrialização mais tardios, é onde os patogénicos que criarão as pandemias do futuro surgem. Menos biodiversidade significa efectivamente mais riscos de pandemias.

Vivemos na maior crise da história da humanidade e numa das maiores crises da história do próprio planeta. Essa história é sobre nós – Canadá, Moçambique, Austrália, Índia, Brasil e Filipinas são aqui, somos nós. A decisão final sobre o que vai acontecer pertence, pelo menos parcialmente, a nós.

A nova subtileza já não é em geral atacar a existência da crise climática, mas sim enquadrá-la e domesticar os cenários que existem, pervertê-los e retratá-los de uma maneira em que o sistema não precise qualquer mudança.

No âmbito da acção “Em Chamas”, dia 22, às 16h vai haver uma manifestação e uma acção de desobediência civil em protesto contra a decisão suicida do governo português de expandir a aviação e construir um novo aeroporto. Eu vou participar, desobedecer, mesmo no meio desta cacofonia que diz que tudo é igualmente importante.

Esta situação não é um “acidente”. Não é um “erro”, ou um crime inesperado que apanhou toda a gente de surpresa. A lógica da produção hiper-intensiva implica olhar para tudo como factores de produção sem componente humana ou social e, desse ponto de vista, procurar reduzir o seu custo.