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Oxfam alerta: um mundo mais quente também é mais faminto

Um novo relatório da Oxfam alerta que as alterações no clima colocarão as famílias numa espiral viciosa de redução do rendimento e alimentação mais cara e pobre. Artigo de Fernanda B. Müller do Instituto CarbonoBrasil
Mãe grávida enfrenta escassez de alimentos devido à inundação da sua aldeia, Char Atra no Bangladesh – Foto Dan Chung, Oxfam

Durante esta semana, cientistas de todo o mundo reunirão para preparar o lançamento do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) na sexta-feira (27). Porém, as informações que já foram divulgadas não são nada acalentadoras.

As evidências do acirramento das mudanças climáticas são cada vez mais consistentes e os seus impactos num mundo superpovoado devem causar ainda muitos prejuízos em termos humanos e financeiros.

Um novo relatório da Oxfam alerta que as alterações no clima colocarão as famílias numa espiral viciosa de redução do rendimento e alimentação mais cara e pobre.

Em ‘Crescente Ruptura’ (Growing Disruption), a Oxfam traz uma avaliação sobre as conexões entre o clima e as diversas causas da fome. Apesar de haver cada vez mais consciência de que as mudanças climáticas prejudicam os cultivos, o relatório mostra que a ameaça para a segurança alimentar é muito mais ampla, abatendo-se sobre o rendimento familiar, a qualidade da comida e a saúde humana de formas ainda incompreendidas.

A Oxfam já havia estimado que o preço médio da cesta básica deve mais do que dobrar nos próximos 20 anos em comparação com os preços de 2010 – até metade do aumento será devido às mudanças climáticas. Os eventos enfatizados no relatório fornecem uma ideia dos demais potenciais impactos futuros, em áreas urbanas e rurais.

Um dos eventos extremos usados como exemplo no relatório é a enchente devastadora de 2010 no Paquistão, que destruiu mais de 570 mil hectares de plantações no Punjab, afetando 20 milhões de pessoas.

Dos stocks de comida, 80% foram perdidos. Assim, as pessoas não apenas passaram fome, mas também não tinham nada para negociar e poder comprar comida. A enchente causou uma redução massiva de 75% do rendimento entre as famílias afetadas.

No Nepal, investigações realizadas pela Oxfam mostram como a perturbação das moções está a pressionar ainda mais o homem a migrar, deixando as mulheres sozinhas cuidando das famílias e tendo que dispensar muito mais energia nas tarefas diárias. As mulheres também comem por último, priorizando os homens e as crianças, portanto, podem cair numa espiral de dieta e saúde precárias, em conjunto com a perda de força e energia.

Outro exemplo foi a seca no Midwest norte americano em 2012. A pior seca em 50 anos cortou em 25% a produção esperada de milho, contribuindo para o aumento global nos preços em torno de 40%.

“Queremos um mundo em que todos tenham o direito a uma alimentação nutritiva e suficientemente acessível, não podemos permitir que as mudanças climáticas nos tirem do rumo”, alertou Tim Gore, chefe de políticas da campanha Grow da Oxfam.

“Os líderes, ouvindo as conclusões mais recentes dos cientistas climáticos nesta semana, devem lembrar-se de que um mundo quente é um mundo faminto. Eles precisam agir urgentemente para cortar as emissões e direcionar mais recursos à construção de um sistema alimentar sustentável”, ressaltou Gore.

Artigo de Fernanda B. Müller do Instituto CarbonoBrasil

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