Die Linke: “O nosso papel é abrir uma nova perspetiva”

22 de September 2013 - 0:00

Entrevista a Wolfgang Gehrcke, deputado do Die Linke no Bundestag, porta-voz do grupo parlamentar deste partido para as relações internacionais. Ele apela a uma “crítica de esquerda da construção europeia”. Artigo publicado no jornal francês “l'Humanité”.

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“A principal tarefa, para nós Die Linke, é abrir uma nova perspetiva. Para conseguir este objetivo, creio que temos de nos apoiar nos movimentos sociais de protesto, de indignação, como em Espanha ou na Grécia”, diz Wolfgang Gehrcke

Há na Alemanha um clima de insatisfação social. Contudo, a chanceler está à frente nas sondagens. Como explica esta aparente contradição?

Wolfgang Gehrcke: Muitos concidadãos meus vivem na insegurança social e outros continuam a ver a sua situação degradar-se. Mas, tendo em conta a dimensão atingida pela crise em numerosos países europeus, a chanceler conseguiu incutir a ideia que soube evitar o pior aos alemães. À esquerda, temos dois problemas. Em primeiro lugar, temos a abstenção que pode ser muito importante nestas eleições. Porque numerosos eleitores pensam que, votem em quem votarem, o seu voto não mudará nada na sua vida. E depois, há a deriva do SPD, que tem o nome associado às reformas Hartz do mercado de trabalho. A principal tarefa, para nós Die Linke, é abrir uma nova perspetiva. Para conseguir este objetivo, creio que temos de nos apoiar nos movimentos sociais de protesto, de indignação, como em Espanha ou na Grécia. Não temos outra escolha diferente para alterar a relação de forças. Porque nós não temos, de momento, nenhum parceiro no parlamento.

Quando o debate europeu ganha contornos populistas, mesmo nacionalistas em torno da dívida grega, como reage o Die Linke?

Wolfgang Gehrcke: Estou muito preocupado que possam existir muitos eleitores tentados pelo voto na direita populista. O AfD (Alternativa para a Alemanha), lançado em abril por antigos democratas-cristãos, cultiva uma demagogia anti-euro e usa um discurso de contornos racistas. Apesar de estar abaixo dos 5% nas sondagens , constitui um verdadeiro perigo. Até aqui, a Alemanha foi preservada de forças de extrema-direita que emergiram, no contexto da crise, um pouco por toda a Europa. Mas não temos a certeza que esse fenómeno não possa surgir aqui também.

Como combatê-lo?

Wolfgang Gehrcke: Estamos contra os clichés veiculados pelos grandes partidos sobre os “gregos preguiçosos” a quem o contribuinte alemão terá, um dia, de pagar as contas. Mas temos necessidade de uma crítica de esquerda à construção europeia. Caso contrário, corremos o risco de a direita se apropriar deste tema. A política imposta por Merkel destruiu a economia grega. A Europa, como está a ser construída, está num impasse. Se defendermos a preservação do euro, então é preciso rever as suas regras assim como o estatuto do Banco Central Europeu, de cima a baixo. É preciso parar a concorrência entre assalariados e entre fiscalidades. Devemos, na Alemanha, sair da política da aposta total na exportação e redinamizar o mercado interno, elevando consideravelmente os nossos padrões sociais. Isso passa por verdadeiras subidas nos salários, pensões e prestações sociais.

Entrevista feita por B. O., enviado especial do jornal francês l'Humanité à Alemanha. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net