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Quem são os terroristas?

A palavra “democracia”, ou a expressão “mundo livre”, é colocada à lapela dos partidários de novas invasões e novas chacinas.

“Dia 11 de Setembro. Desviados da sua missão normal por pilotos decididos a tudo, os aviões mergulharam contra o coração da grande cidade, decididos a abater os símbolos de um poder político detestado. Rapidamente: explosões, fachadas a voar em estilhaços, o estrondo infernal de desmoronamentos, sobreviventes aterrados, fugindo cobertos de destroços. E os media transmitiram em direto... Nova Iorque, 2001? Não, Santiago do Chile, 11 de Setembro de 1973”1.

É incómodo para muita gente que recordemos a data do golpe de Pinochet e dos EUA contra o presidente socialista Salvador Allende. A reação é como se quiséssemos negar a violência de 11 de Setembro de 2001. Não queremos. Queremos é que não se silencie a história do “terrorismo” dos próprios EUA, não por ontem mas por hoje. Essa palavra tão útil aos poderosos não encontra nem prevejo que encontre definição no direito internacional público, porque “terroristas” são sempre os Outros.

Desde 11 de Setembro de 2001, que “terrorista islâmico” é para muita gente um pleonasmo, apesar das centenas de milhões de pessoas islâmicas do mundo nada terem a ver com os ataques de organizações que até foram treinadas pelos EUA, quando o inimigo era Outro.

Na Europa, os cúmulos a que esta ideia chega podem ser ilustrados pelos atentados de Oslo. Em julho de 2011, 92 pessoas foram mortas num duplo atentado: mais de 80 mortos no acampamento de jovens do Partido Trabalhista na ilha de Utoeya e os 7 mortos e 2 feridos do atentado à bomba em Oslo com que a tragédia começou. Depois da acusação imediata e sem rosto aos “terroristas islâmicos”, afinal o autor tinha sido um membro da extrema-direita norueguesa chamado Anders Behring Breivik, europeu nórdico de 32 anos, fundamentalista cristão, anti-islâmico.

Assim que se soube que o autor dos atentados de Oslo era um fundamentalista cristão, a reação dos media foi literalmente: “afinal não era um terrorista”. Não era terrorista por ser cristão e um loiro de olhos azuis. E passou a ser simplesmente um louco, aliás uma vítima. Entre outros, o conservador Brussels Journal chegou desenhar a seguinte teoria: "A sua raiva, alimentada por jogos de vídeo, também pode ter sido causada pela falta de discussão real sobre as mudanças radicais causada pelo multiculturalismo"2. É a teoria da “xenofobia soft”.

Voltando aos EUA e aos seus passeios pelo mundo: do Chile ao Iraque, da Líbia à Síria… Para que o poder das potências e dos oligopólios se mantenha, os aliados de anteontem são os terroristas de ontem e os aliados de hoje. Os EUA e todos os apoiantes europeus do imperialismo NATO, na alegada tarefa de implantação da democracia através de bombas, preparam-se para voltar a dar força à Al-Qaeda.

Seria errado comparar qualquer ditador ao presidente chileno eleito democraticamente e que pela via democrática começava a cumprir as aspirações emancipatórias de uma grande frente popular. No entanto, há que recordar que sempre que a palavra “democracia”, ou a expressão. “mundo livre” é colocada à lapela dos partidários de novas invasões e novas chacinas, há povos em todo o mundo que sofrem o terror da ingerência imperialista.


1 Ignacio Ramonet - Guerras do Século XIX. Novos medos, novas ameaças. Porto: Campo das Letras, 2002. p. 45.

2 Norwegian Tragedy And Absence Of Debate, http://www.brusselsjournal.com/node/4773

Sobre o/a autor(a)

Investigador. Mestre em Relações Internacionais. Doutorando em Antropologia. Ativista do coletivo feminista Por Todas Nós. Dirigente do Bloco de Esquerda.
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