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A China espalha o medo com a sua "aterragem forçada"

A desaceleração em conjunto dos Estados Unidos, da Europa, da China e dos países emergentes pode ser uma tempestade perfeita para a economia mundial. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón
O que interessa não é a velocidade do PIB mas sim a evolução ordenada e equilibrada deste PIB na sociedade. Foto FlyingOverMountains

Após várias décadas de crescimento económico a índices de 10 por cento, a China enfrenta uma desaceleração que provoca o medo em todo o mundo. De 7,7% do primeiro trimestre, caiu para 7,5% no segundo e estima-se que esta queda vá continuar. O Barclays e o Nomura juntaram-se à recente previsão da Societé Générale sobre o “considerável risco” que a China está a implicar para a economia mundial com a sua “aterragem forçada”, e falam de taxas de crescimento em torno de 5 por cento. Isto justifica os temores se pensarmos que a desaceleração em conjunto dos Estados Unidos, da Europa, da China e dos países emergentes pode ser uma tempestade perfeita para a economia mundial. O Barclays e o Nomura assinalam que o crescimento do PIB chinês poderia cair para 3% nalgum momento dos próximos três anos. Isto seria menos de um terço da taxa média de crescimento que teve a China nas últimas três décadas.

A China enfrenta uma complexa reforma estrutural impulsionada pelo governo do primeiro-ministro Li Keqiang, que na prática tem significado a retirada dos estímulos que foram implementados desde 2008/2009, e uma intensiva desalavancagem bancária. Com isto, o governo encarregou-se de furar as bolhas e dar um claro sinal que nada será como dantes para o mundo. Este cenário está a significar uma desaceleração das exportações e importações chinesas, e não é uma aterragem forçada para a China mas bem pode sê-lo para o resto do mundo. Daí a queda nos preços das commodities e das matérias primas, que complicará a situação dos países produtores destes recursos, devido à alta procura chinesa no período do auge.

O modelo económico chinês tornou-se altamente dependente do investimento e da dívida, e foi esse modelo de financeirização que fez da China uma locomotiva económica. Por isso não deveria ser surpresa que este modelo esteja a chegar ao fim de forma voluntária. Durante o período de crescimento, os níveis de dívida dispararam e o dinheiro transformou-se em fábricas, edifícios, estradas, aeroportos que mudaram o rosto da China. O gigante asiático juntou-se a esse mundo que caminhava aceleradamente para um esgotamento total dos recursos, e chegou a ser o melhor aluno. Mas uma redução a tempo da velocidade sempre pode salvar muitas vidas. E é isso que está a fazer a China desde o ano 2010, com o seu furo da bolha imobiliária.

Agora, a China quer equilibrar a sua economia e torná-la menos dependente da dívida e do investimento estrangeiro. A China tem um PIB atual de 8,6 biliões de dólares e um crescimento de 7,5% (650.000 milhões de dólares), é equivalente a um crescimento de 4% de Estados Unidos. Mas os Estados Unidos há tempos que não crescem 4 por cento. O mais provável é que o índice de crescimento do Produto Interno Bruto da China continue a cair nos próximos anos. A queda do investimento é um fenómeno de características globais, e já vimos como tem descido o investimento na Europa. O mesmo está a ocorrer na China.

Os relatórios dos bancos Barclays, Nomura e Societé Générale são um pouco alarmistas. Falam de uma aterragem forçada da economia mundial, quando o que está a vir dos lados da China é um ajustamento suave. Outra coisa é pensar que a China vai resolver os problemas da Europa ou dos Estados Unidos.

Se a China conseguir que a queda do crescimento ocorra devido a menores transferências para as camadas financeiras e com um aumento do rendimento médio dos lares, terá tomado a direção correta. O que interessa não é a velocidade do PIB mas sim a evolução ordenada e equilibrada deste PIB na sociedade. A China está a dar um claro exemplo disto ao dar prioridade aos equilíbrios internos que ajudam à estabilidade social, em vez de aos equilíbrios externos das importações e exportações que geram as bolhas, aumentam a dívida e desestabilizam a sociedade.

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