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Lançamento de manifesto contra encerramento das livrarias lisboetas

Este sábado, pelas 21h, foi lançado o “Manifesto contra o desastroso encerramento das livrarias da Cidade de Lisboa no centenário da Livraria Sá da Costa”. A iniciativa teve lugar na própria Livraria Sá da Costa, na Rua Garrett, ao Chiado, que encerrou as portas após 100 anos de existência.
Foto de Júlio Lobo Pimentel, flickr.

O “Manifesto contra o desastroso encerramento das livrarias da Cidade de Lisboa no centenário da Livraria Sá da Costa” é subscrito pelos cinco livreiros da Sá da Costa, sendo publicado pela Letra Livre. A obra inclui o discurso proferido por Augusto Sá da Costa, a 10 de junho de 1943, quando teve lugar a inauguração da atual loja na rua Garrett.

No documento, é mencionada a “destruição dos espaços culturais emblemáticos, por fatal ‘mudança de ramo’, vítimas da especulação dos arrendamentos, expulsas pela investida tornada ‘natural’ das lojas e luxo, [que] encerram portas num abrir-e-fechar de olhos”.

Como exemplo é feita referência às livrarias Portugal, Guimarães, Barateira e Camões, na área da Baixa-Chiado-Misericórdia/Trindade, e às que “estão em vésperas de fechar”, como a Olisipo e Arte e Letras, no largo Trindade Coelho, junto a São Roque, “se não mesmo a provecta Livraria Lello”, na rua do Carmo.

Segundo os livreiros da Sá da Costa, o espaço ocupado pela livraria é um “lugar cobiçado demais, pelos negócios do dinheiro graúdo”, o que impede que interessados nos “valores imateriais” a possam resgatar da “ditadura financeira rapace e usurária”.

A “própria corporação de editores e livreiros” também é alvo de críticas, sendo acusada não só de encolher os ombros, como de “rejubilar quando um ‘concorrente’ se vê forçado a fechar a porta”.

“Resultado: ninguém levanta um fósforo do chão”, escrevem, acrescentando, “a solidariedade esvai-se das práticas sociais, ficando a palavrinha reduzida ao seu uso demagógico”, avançam.

Para os subscritores do Manifesto, o encerramento da Sá da Costa é um “sinal dos tempos – bem paradigmáticos desta apagada e vil tristeza em que o país, e nós com ele, nos encontramos mergulhados – a zona do Chiado, a sua histórica envolvência, tem sido palco de uma razia, de devastação”.

Em 2010, as Finanças tentaram leiloar o alvará, direito ao arrendamento e trespasse da loja com uma base de licitação de 175 mil euros, contudo, não surgiu nenhuma proposta. Um ano mais tarde, o tribunal decretou a venda judicial por um valor mínimo de 415.498 euros. Segundo adiantou a agência Lusa, terão sido apresentadas duas propostas que não cumpriam os requisitos necessários, pelo que a gestão da livraria passou a ser assegurada por cinco funcionários, que têm organizado um conjunto de eventos para dinamizar o espaço.

Esta semana, a assembleia de credores não deu luz verde ao plano de viabilização da empresa, apresentado no dia 2 de julho, tendo o Tribunal de Comércio decretado a insolvência.

A livraria surge na lista de “bens imóveis de interesse municipal e outros bens culturais imóveis” do Plano Diretor Municipal de Lisboa.

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