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SYRIZA: Juntar forças para governar

A história tem destas coisas: só se faz com momentos históricos. Mesmo que, por vezes, eles não se mostrem como tal à primeira vista, ou a nossa sensibilidade não os identifica. No passado fim de semana, contudo, era evidente que a história se escrevia com tinta permanente no primeiro congresso do SYRIZA. Um congresso com quase 3500 delegados e que mudou a esquerda grega.
Perante o desafio de um crescimento crescente que lhes abre a porta de um futuro governo, a coligação deu o passo de se transformar em partido. Daí este primeiro congresso, onde tudo se definiu, desde a declaração de princípios, o texto político e os estatutos. E, claro, onde tudo foi discutido e as diversas posições clarificadas, sempre com o típico calor grego.
O número: 3430 delegados. Este número de delegados dá conta da enorme envolvência que o partido empenhou na construção deste congresso. Os trabalhos duraram desde quarta-feira, tendo votado 3412 delegados na eleição do presidente, o que aconteceu no final da tarde de domingo. Foi uma sensação extraordinária entrar naquele pavilhão e sentir a energia dos delegados, a intensidade do debate, a atenção presa a todos os pormenores.
O debate político: A Declaração de Princípios e o texto político foram construídos ao longo dos dias do congresso, com um grupo de delegados representativo escolhido para o efeito. Ao plenário, coube a discussão e votação geral sobre os textos e a votação das emendas e propostas de alteração. Propostos a resgatar a Grécia das garras da austeridade, o novo partido assume o socialismo como o objetivo estratégico. De registar o debate em torno de questões que nos parecem tão próximas: A relação do partido com o euro, com a dívida e com a composição do futuro governo que derrube a troika. A renegociação da dívida, com uma profunda redução dos seus montantes, sem abdicar da presença de plenos direitos na zona euro é o propósito final. Mas, sem cair nas mãos da chantagem sobre a moeda única: Um governo liderado pelo SYRIZA não pretende fazer sair a Grécia da zona euro, mas não aceita mais sacrifícios em nome da moeda única. O partido ficou mais forte para governar rejeitando a austeridade.
O momento do congresso foi o abraço de Manolis Glezos a Alexis Tsipras. O grego de 90 anos, resistente da segunda guerra mundial, é conhecido por ter retirado a bandeira nazi da acrópole, substituindo-a pela bandeira grega, num ato que inspirou os gregos à resistência contra a ocupação. No congresso fez um primeiro discurso, intempestivo, recusando o caminho proposto de dissolução dos partidos em tendências internas. As notícias de divisões no interior do SYRIZA não se fizeram esperar e tudo parecia correr mal no desenrolar do congresso. No dia seguinte chegou a resposta de Tsipras apelando à união e à necessidade de afirmação do partido para ganhar as próximas eleições. Manolis Glezos levantou-se e deu um enorme abraço a Tsipras, pedindo depois a palavra para demonstrar a união das várias gerações de esquerda. O partido saiu unido, sendo dado um prazo curto para as dissoluções que ainda não aconteceram.
O debate dos estatutos e as eleições foram muito participados. A forma de eleição do presidente e do comité central ocupou a maioria das intervenções, acabando o modelo de eleição do presidente por ser em sufrágio universal dos delegados. Alexis Tsipras foi eleito presidente do novo SYRIZA com 74% dos votos, uma votação que excedeu as expectativas iniciais. A forma de eleição do comité central foi também aprofundadamente debatida. De entre os métodos apresentados, acabou por vingar o modelo de uma lista unitária, aberta, que concorre diretamente com outras listas fechadas. Os resultados foram os seguintes: A lista unitária obteve 67,61% dos votos, a Plataforma de Esquerda ficou com 30,15%, membros não alinhados em tendências conseguiram com 1,03%, a Tendência Comunista alcançou 0,74% e a Intervenção Cidadã obteve 0,27%. A Tendência Intervenção para a Unidade acabou por não eleger nenhum membro, alcançando 0,21% dos votos.
A nota pessoal vai para a reunião que Alexis Tsipras teve com a comitiva do Bloco de Esquerda. De Portugal, eu, a Marisa Matias e a Alda Sousa, levamos um abraço de fraternidade para a nova página que se abriu na história da esquerda grega, na esperança da derrota breve da troika. Da Grécia, chegou uma palavra de esperança para o povo português na luta contra as políticas de austeridade, certos que se há um mar que nos separa, são mais fortes os valores que nos unem.
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Cool. Gosto desta redação
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