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“Mais cedo ou mais tarde vai ter de explicar ao país o que é irrevogável”

Na primeira presença de Paulo Portas no Parlamento, depois do folhetim demissão "irregovável" que rapidamente foi revogável, o tema da audição foi o impedimento da aterragem em Portugal do avião de Evo Morales, mas a crise política originada pela carta de demissão do líder do CDS esteve sempre presente. Paulo Portas não respondeu a nenhuma das questões levantadas sobre o assunto.
Helena Pinto defendeu que Paulo Portas se escondeu no acessório, o sobrevoo do espaço aéreo nacional, para não responder à “questão de fundo, que foi não autorizar a aterragem".

Paulo Portas reconheceu pela primeira vez, esta terça-feira no Parlamento, que o “problema técnico” que levou o Governo português a não autorizar a aterragem do avião aonde seguia o presidente boliviano Evo Morales, foi a eventualidade de Edward Snowden seguir a bordo.

O ministro demissionário dos Negócios Estrangeiros garantiu que, apesar do governo nacional não ter solicitado nenhuma “informação nem garantia" sobre quem seguia no avião, a possível presença do ex-espião perseguido pelos Estados Unidos da América levaria Portugal a “importar” um problema que Paulo Portas entende que não é o seu.

A deputada do Bloco, Helena Pinto, considerou que Paulo Portas se escondeu no acessório, o sobrevoo do espaço aéreo nacional, para não responder à “questão de fundo, que foi não autorizar a aterragem". Pior, avançou a deputada, a desvalorização do problema efetuada pelo ministro demissionário não bate certo com o mensagem do Governo da Bolívia. Ainda esta terça-feira, o ministro de Estado da Bolívia reiterou que Portugal continua sem justificar as razões técnicas que levaram a impedir a aterragem do avião presidencial de outro país.

Helena Pinto perguntou ainda, e por mais do que uma vez, se e quando é que Portugal pedirá desculpas à Bolívia, como já fez França e o Estado Espanhol se prepara para efetuar.  A resposta de Paulo Portas foi sempre a mesma: nenhuma.

"Não aconteceu nada, afinal. Estamos a falar de uma ficção e isso é altamente preocupante”, ironizou a deputada do PS, Maria de Belém Roseira. Já o PCP, partido que agendou a audição, lembrou os reflexos económicos de uma possível represália económica da Bolívia e de outros países da América Latina que prontamente se colocaram ao lado deste país na batalha diplomática que está a travar contra Portugal, Itália e Espanha.

Mais cedo ou mais tarde vai ter de explicar ao país o que é irrevogável e o que é dissimulação”

Foi a primeira vez que Paulo Portas se deslocou ao Parlamento depois de ter apresentado a sua demissão “irrevogável” do Governo, e do folhetim que se lhe seguiu com o CDS a ganhar peso na maioria de direita e o mesmo Paulo Portas a ser promovido dentro da orgânica do Governo.

Apesar do notório silêncio do PS durante toda a comissão, o tema não poderia passar em claro no Parlamento e a deputada Helena Pinto confrontou o líder do CDS com os efeitos políticos desta crise: “seria inimaginável que estivesse nesta comissão e ignorássemos esta semana em que a política baixou ao grau zero", registou Helena Pinto. "Provavelmente vai dizer que hoje não fala disso, mas não há por onde fugir. Mais tarde ou mais cedo vai ter de explicar ao País o que é irrevogável e o que é dissimulação." Confirmando a pergunta, Paulo Portas nada respondeu às perguntas e intervenções do Bloco e PCP sobre o assunto.

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