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Quem manda

Bastaram uns quantos telefonemas de Merkel, Draghi e Barroso (eles próprios porta-vozes das forças financeiras globais) para o líder do CDS tremer, recuar e dar o dito por não dito.

A força da burguesia internacional (e a fraqueza e subalternidade da nacional) encontram uma gritante ilustração no episódio de Paulo Portas (ir)revogável. Bastaram uns quantos telefonemas de Merkel, Draghi e Barroso (eles próprios porta-vozes das forças financeiras globais) para o líder do CDS tremer, recuar e dar o dito por não dito. Junta-se a esta circunstância uma política generalizada de chantagem, em tudo semelhante ao discurso da direita aquando do 1º resgate de que “já não há dinheiro para pagar salários e pensões”, com forte propagação em media preguiçosos e habituados ao efeito de eco, respaldados numa corte de comentadores subservientes e medrosos.

Nada pode interromper o processo de transferência de rendimento permitido pela economia política e moral das dívidas soberanas. A grande finança ainda não confia no PS, por o achar titubeante ou por desconfiar da sua dificuldade em conseguir uma maioria absoluta. Vejam-se, aliás, as estonteantes declarações de Manuel Pizarro, candidato à Câmara Municipal do Porto, que considerou ser uma “loucura” o cenário de eleições antecipadas… Não se conseguiu ainda perceber, num outro plano, que propostas alternativas possui o PS – para além de uma vaga vontade de renegociação do memorando, de medidas mais ou menos inócuas que até a direita viabiliza no parlamento e da versão rosa light da mesma austeridade.

O movimento social, diga-se, está longe do seu melhor, apresentando mesmo sinais de evidente fraqueza. O medo e a ameaça surtem os seus efeitos, na fragmentação, no isolamento, na incerteza.

Há uma enorme batalha de ideias por travar; uma batalha que tem também de combater a dominação incorporada nas mentalidades, nas práticas e naquilo que parece ser o “bom senso”, mas que mais não é do que a força reacionária da situação.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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