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Grécia: "Só negociamos quando o governo voltar a ligar o sinal da televisão pública"

O Esquerda.net visitou as instalações do edifício da televisão pública Grega, acompanhando uma delegação internacional de solidariedade encabeçada por um deputado do Syriza. Ocupada pelos trabalhadores há duas semanas, a ERT emite 24h diárias via internet desde que o governo decretou o encerramento da empresa e cortou o sinal de transmissão. Reportagem de Miguel Reis e fotos de Jonan Lekue.
A solidariedade da população de Atenas tem sido essencial para o protesto ganhar força e obrigar à reposição da lei.

Já passava das 23h30 e mesmo assim, no exterior do edifício da ERT, largas centenas de pessoas permaneciam em solidariedade com os trabalhadores. O edifício está revestido de cartazes e faixas contra o encerramento da televisão. Os manifestantes conversam, mostram os seus cartazes de protesto, e assistem a um concerto de apoio à ocupação. O palco e os equipamentos são da ERT e o sistema de som é garantido pelos trabalhadores. Muitos artistas estão solidários e garantem espectáculos todas as noites.

Dentro do edifício contactámos directamente com os trabalhadores.  Maria Alexaki - a apresentadora do noticiário da manhã - foi quem nos guiou pelos vários andares do edifício ocupado. Foi possível ver os estúdios do noticiário, as salas onde é garantida a transmissão via internet, o departamento internacional, e o bar onde os jornalistas conversam sobre o que poderá suceder a seguir. A ERT está dividida por vários edifícios mas este que o Esquerda.net visitou é o principal. "Neste edifício trabalhavam 400 jornalistas e técnicos e neste momento cerca de 100 aqui continuam" revelou Alexaki, enquanto mostrava a sala do noticiário da noite. Frisou também que "esta ocupação tem sido muito cansativa e stressante" até porque "a emissão é assegurada 24h por dia, coisa que nunca aconteceu antes do encerramento". De facto, o stresse e o cansaço eram visíveis em muitos jornalistas, num rodopio constante. Mas, segundo Alexaki, o esforço tem-se revelado profícuo: "desde o encerramento já superámos os 4 milhões e quinhentos mil visitantes únicos através da internet".

As escadas do edifício - que subimos para voltarmos a falar com Konstantinos Karikis - estavam repletas de cartazes. Um deles dizia "Troika fora do sindicato de jornalistas". Karikis recebeu-nos entusiasticamente. "Estamos a resistir!", exclamou, enquanto nos convidava para nos sentarmos numa das secretárias de trabalho. "No sábado, a seguir à ordem de evacuação dada pelo governo, juntou-se aqui muito mais gente" adiantou Karikis, para quem "o governo está desorientado". Karikis assegura que "se continuarmos com muitos trabalhadores aqui dentro e se continuar muita gente lá fora, vamos conseguir alguma coisa, mas se as pessoas forem desmobilizando, a polícia ocupará isto violentamente". 

O jornalista referiu ainda que - embora não fosse uma informação oficial - o tribunal teria recusado à polícia uma autorização para evacuar o edifício. "Felizmente!", congratulou-se Karikis. "E aqui temos desde trabalhadores de esquerda até pessoas que votaram em Samaras e que são de direita. O nosso objectivo não é o derrube do governo mas sim a garantia dos postos de trabalho e do serviço público de televisão", acrescentou Karikis, que sublinhou que o governo gastará mais dinheiro a despedir toda a gente do que em manter a televisão: "o que vai gastar em indemnizações e perder em publicidade comercial afectará o Orçamento de Estado, ao contrário do que sucedia antes do encerramento, em que a televisão era garantida por uma taxa anexada à conta da electricidade". Karikis conclui: "não vamos em conversas sobre a criação de uma nova televisão, só negociamos o que quer que seja quando o governo voltar a ligar o sinal da televisão pública. Essa é a nossa exigência imediata e dela não abdicamos!"

Voltámos ao exterior do edifício para falar com algumas pessoas solidárias que ali têm permanecido desde há vários dias. "O governo vai querer dividir os trabalhadores, estabelecendo contratos com alguns para uma nova televisão, se eles forem aceitando, os outro vão desmoralizar e será  uma derrota para todos", disse uma das manifestantes. O Esquerda.net ouviu também relatos dramáticos: "o stress dos trabalhadores ocupantes é de tal ordem que uma jornalista grávida de cinco meses abortou". Outra manifestante esclareceu os procedimentos do governo para acabar com o sinal da televisão: "Quando fecharam o sinal, ele foi reposto via satélite pela UER (União Europeia de Radiodifusão), mas como a empresa que garantia o sinal via satélite era israelita, o governo grego falou com o governo israelita para obrigar essa empresa a fechar o sinal. Resta-nos a transmissão pela internet de forma analógica, porque o governo enviou militares para encerrar e vigiar as estruturas que permitiam a transmissão via digital."

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