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Grécia: PASOK aumenta influência no governo da troika

A saída do parceiro menor da coligação do governo de Samaras provocou uma remodelação governamental anunciada esta segunda-feira. Evangelos Venizelos é o novo vice-PM e ministro dos Negócios Estrangeiros e o seu PASOK fica com um terço das pastas, apesar de valer 5% nas últimas sondagens. A primeira crise do novo Governo ocorreu duas horas depois da nomeação: a ministra-adjunta para a Saúde demitiu-se quando soube que o ministro é uma figura conhecida da extrema-direita grega.
Evangelos Venizelos, o novo vice-primeiro-ministro grego, reforçou o compromisso com a receita da troika. Nesta foto surge acompanhado do líder do PS português, numa reunião dos socialistas europeus. Foto Partido dos Socialistas Europeus/Flickr

A inevitável remodelação após a crise do encerramento da televisão pública levou ao reforço do peso dos socialistas  num governo enfraquecido pela saída de um dos partidos. O Dimar, de Fotis Kouvelis, não chegou a acordo sobre o plano do governo para o futuro da ERT e do serviço público de televisão, e ao fim de um ano de implementação de medidas de austeridade e quebra de popularidade do Governo e dos dois partidos menores, bateu com a porta. No entanto, sublinhou que não deseja eleições antecipadas, o que faz antever alguma viabilização de medidas num parlamento onde PASOK e Nova Democracia passam a ter apenas três votos a mais que os restantes partidos.

A chamada de Venizelos de regresso ao Governo, depois de ter ocupado a pasta das Finanças nas negociações com a troika, nos Governos de George Papandreou e Lucas Papademos, não surpreende. O líder do PASOK passa a deter a pasta dos Negócios Estrangeiros e é o novo vice-primeiro-ministro grego, à procura de um último fôlego que impeça a implosão eleitoral em caso de eleições antecipadas. O PASOK está em queda contínua nas sondagens, com os últimos valores a rondarem os 5%. Na prática, trata-se de um reforço do compromisso dos socialistas gregos com a agenda de cortes e mais austeridade imposta pela troika, mas também com um governo claramente autoritário, onde o primeiro-ministro pode decidir cortar o sinal da televisão pública sem consultar os parceiros de coligação.

A remodelação manteve os ministros de pastas-chave como as Finanças, Interior, Educação e Trabalho. Para além dos ministérios que detinha, o PASOK ganhou as pastas do Ambiente e dos Transportes e reforçou o número de ministros-adjuntos noutras pastas. A questão da televisão pública ficará nas mãos do novo ministro Pantelis Kapsis, o antigo porta-voz do governo tecnocrático de Lucas Papademos. Para a pasta da Administração Pública, que tem até ao fim do mês para apresentar a lista de 2000 funcionários a despedir, vai um antigo executivo do setor financeiro de capital de risco, envolvido num dos escândalos de luvas da empresa alemã Siemens quando era deputado da Nova Democracia em 2007.

Para a Saúde, ND e PASOK escolheram um comentador televisivo e político conhecido pelas suas posições xenófobas. Adonis Georgiadis foi até 2007 o porta-voz do LAOS, o partido mais à direita do espectro político grego até à ascensão dos neonazis da Aurora Dourada. No ano passado, mudou-se para a Nova Democracia e a sua entrada para liderar a pasta da Saúde levanta algumas preocupações, tendo em conta as suas posições anti-imigração numa altura em que se preparam novos cortes num sistema público de Saúde já muito debilitado.

Segundo jornalistas citados pelo blogue Keep Talking Greece, foi a nomeação de Georgiadis que provocou a primeira crise do novo governo, com a sua adjunta Sofia Voultepsi a apresentar a demissão duas horas depois de nomeada, quando foi informada do nome do seu superior. Voultepsi era deputada da Nova Democracia e foi notícia no início do mês por desobedecer às novas regras de segurança no parlamento grego, recusando ter a sua mala de mão revistada pela polícia à entrada do edifício. Na mesma altura, deu a cara pelo seu partido para considerar desnecessária a proposta de lei para criminalizar o incitamento à violência racial ou a negação dos crimes nazis durante a II Guerra.

Syriza: Remodelação marca o início do fim do governo

Em comunicado, o maior partido da oposição afirmou que o novo governo irá continuar a aplicar as medidas do memorando para vender os bens públicos e tirar mais rendimentos aos trabalhadores, com novos cortes de salários e pensões nos objetivos traçados para este ano. 

O Syriza considera que "a reciclagem das caras não consegue esconder o fracasso catastrófico" do memorando da troika e que esta remodelação "tenta ligar ao ventilador um governo em colapso" devido às políticas de austeridade que tem agravado a destruição da economia grega nos últimos anos.

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