You are here

Um arco-íris contra a crise

Amanhã realiza-se em Lisboa mais uma edição da marcha do orgulho LGBT de Lisboa. Pela décima quarta vez se assinala a data de 28 de Junho 1969 e a sua fulgurante, divertida, colorida e animada revolução.

Este é o momento de luta por excelência de visibilidade do movimento LGBT. Momento de sair à rua, e dizer ao que vimos. Resolvi simplesmente destacar os textos que o blogue da marcha de Lisboa foi publicando nos últimos dias; e assim esse arco-íris de lutas que marca o que é hoje o movimento e a luta LGBT.

O reconhecimento de uma variedade de orientações sexuais e relacionais, com identidades de género diversas, é o caminho para uma sociedade mais justa, porque inclusiva. Esse tem sido o caminho jurídico que Portugal, na esteira de outros países, tem seguido. Mas sabemos que a transformação cultural – a igualdade de facto – é um processo muito lento e porventura mais escorregadio. A coexistência de leis justas e atitudes discriminatórias sucede porque o preconceito se reproduz, tentacular, com a cumplicidade individual e institucional proveniente de muitos lugares quotidianos. (não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais)

A revolução será queer ou não será. Somos todxs corpos, pessoas, animais, pokemon, dragões, feiticeir*s e elfos domésticos e junt@s faremos a revolução! Vestidas ou despidas, pretas ou mulatas, com varinhas ou choques trovão saímos para dizer que queremos abolir a crise e a austeridade do nosso vocabulário. (…) Queremos mudar a língua e visibilizar *s ainda invisíveis: *s piratas do género, *s transtornad*s, os transespecistas, os corpos estranhos e, por isso, ainda mais bonitos, *s que não têm vontade de fazer sexo, mas nem por isso serão púdicos, mas principalmente, *s que, com austeridade, nem mais um dia aguentam. (Exército de Dumbledore)

A Associação de Estudantes do ISCTE-IUL representa a totalidade dos seus estudantes, pautando a sua atividade pelos valores da igualdade, democracia e liberdade, considerando a diferença um dos princípios centrais da sua estrutura. Assumimos o compromisso de combater qualquer forma de discriminação ou penalização de estudantes em consequência de escolhas e orientações individuais e existimos para construir um espaço inclusivo e democrático em que a liberdade e o direito de escolha sejam valores centrais para a comunidade académica. (Associação de Estudantes do ISCTE-IUL)

Porque este orgulho que temos não é como o dos "outros". A lógica mantém-se e precisa-se ainda de orgulho em oposição à vergonha e ao silêncio. E não, continua a não ser o mesmo que "orgulho hetero" ou "orgulho branco" de pessoas privilegiadas que nunca sentiram vulnerabilidade proveniente de terem uma identidade de género/sexualidade incompatível com o status quo. (Bichas Cobardes)

Por isso esta Marcha LGBT de Lisboa, tem o combate à crise e aos seus responsáveis no seu centro. Por isso vir para a rua no dia 22 de junho, é uma passo fundamental para a visibilidade de todos os direitos que faltam conquistar e a afirmação clara de que o capitalismo e a democracia formal que vivemos provaram que não servem como sistema. Não servem para a justiça social, não servem para a redistribuição da riqueza produzida, não servem para garantir igualdade de direitos entre orientações, identidades e proveniências de classe, não servem para garantir que o planeta e os seus recursos naturais são preservados para as gerações futuras. (Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTranfobia)

O mote da Marcha LGBT este ano como não podia deixar de ser é: Arco-Íris contra a crise. Porque esta capa que nos venderam da "inevitabilidade da crise" e consequentemente a "inevitabilidade das medidas de austeridade" que todos os direitos permitem que sejam atropelados afecta-nos a todos e precariza ainda mais quem já de si sustentava um equilíbrio frágil nesta sociedade discriminatória. (Precários Inflexíveis)

Num ano marcado pela aprovação parlamentar da coadoção em casais do mesmo sexo e pelo crescente apoio à candidatura a adoção por casais do mesmo sexo, marchamos uma vez mais pela visibilidade das pessoas LGBT e das suas famílias, sempre no plural. E continuaremos a marchar com cada vez mais força pelo igual reconhecimento das nossas realidades e projetos familiares - e pela proteção adequada das nossas crianças. (Associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero)

No dia a dia, a lésbica, como todas as mulheres, sofre uma pressão para cumprir os papéis sociais que o patriarcado lhe tenta impor, o dever da reprodução e de cuidadora, reduzindo-as a isso mesmo, unidades de produção e preservação de mão de obra. Tentando diminuí-las, segregando quando não pretendem encarnar, somente, esses papeis tradicionais. (Clube Safo)

É do conhecimento geral que, em tempos de crise, quem mais a sente são, regra geral, as minorias e grupos mais desfavorecidos. Com a presente crise a regra confirma-se. Assim, a juntar ao boicote feito pelos “especialistas” mais conservadores à lei de alteração de nome e sexo, que à revelia do espírito da lei só passam a declaração necessária para o efeito depois de terem dois relatórios de transexualidade, somam-se os casos em que as pessoas pura e simplesmente não têm o dinheiro necessário para proceder à respectiva alteração, desde que o o governo actual anulou a gratuidade do procedimento. Escusado será dizer que, simplesmente por o serem, as pessoas transexuais são das mais causticadas pelo flagelo do desemprego junto com os desempregados com idades a partir dos quarenta. (GTP - Grupo Transexual Portugal)

Saímos à rua no sábado por saber que é necessário resolver a inadequação das estruturas de saúde em relação à população homo, bi e trans. Parte da população LGBT afasta-se dos cuidados médicos por receio de discriminação e/ou por não sentirem as suas necessidades reconhecidas. A expressão da orientação sexual e identidade de género dos utentes é essencial para uma boa avaliação das suas necessidades ao nível da saúde sexual. (GAT - Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos do VIH/SIDA)

O heterossexismo contra o qual a Marcha luta é também parte da cultura que força a monogamia como único modo de vida digno de respeito. O PolyPortugal entende que as lutas não podem ser fragmentadas, porque também o problema não é fragmentado: machismo, (hetero)sexismo e mono-normatividade andam de mãos dadas e alimentam-se mutuamente. Se pessoas de diferentes credos, cores de pele, ou de sexos iguais, vêm hoje (parcialmente) reconhecido o seu direito a ter e viver as suas relações, isso aponta para uma mudança, cultural e pessoal, no significado de “amor” e de “relação”. Nada há de errado com a monogamia, ou com a heterossexualidade – os problemas surgem quando umas formas de vida implicam discriminação face a outras. (PolyPortugal)

Sobre o/a autor(a)

Geógrafo, investigador e ativista feminista e LGBT
(...)