Palestinianos derrubam parte do muro do apartheid

22 de May 2013 - 1:07

Na 6ª feira, 16 de maio, à noite, um grupo de vinte palestinianos abriram uma passagem no muro no posto de controlo de Abu Dis, entre as vilas de al-Ezzariya e Abu Dis, e derrubaram parte do mesmo para chegar aos arredores de Ras il-Amood, em Jerusalém. Artigo de Linah Alsaafin para Al-Monitor Palestine Pulse.

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Foto de delayed gratification.

A reação do exército de Israel foi, previsivelmente, frenética e desproporcionada. Atiraram com munição real contra os palestinianos, além de bombas de som e granadas de choque. O buraco no muro foi ampliado para quatro metros, e, segundo Salah Khawaja, porta-voz da Ministério do Estado da Autoridade Palestina para Questões das Colónias e Muro do Apartheid, pelo menos três pessoas entraram em Jerusalém e chegaram à Mesquita al-Aqsa para as orações da tarde.



Abu Dis e Ras il-Amood eram cidades vizinhas, antes de serem separadas pelo muro, que separou vizinhos e parentes e multiplicou as distâncias e as dificuldades para ir de uma vila à outra.



O derrube de parte do muro vem na sequência de várias manifestações contra a ocupação israelita, após a comemoração do 65º aniversário do Nakba Day (Dia da Catástrofe), a 15 de maio, que marca o aniversário da criação do Estado de Israel. As manifestações prosseguirão durante o verão, segundo Khawaja, e focar-se-ão na judaização de Jerusalém mediante a expulsão de moradores, demolição de casas e assalto e ocupação de todas os bairros palestinianos.



“Não devemos contar com as negociações; devemos depender de nós mesmos para pressionar a comunidade internacional a tomar medidas concretas, para que Israel seja obrigado a responder pelo que faz” – disse Khawaja ao Al-Monitor. – “Em 2004, a Corte Internacional de Justiça estipulou que o muro do apartheid é ilegal e deve der demolido, mas até agora não se viu qualquer ação para fazer valer a sentença daquela alta corte. Cabe a nós aplicar a decisão da Corte Internacional.”



Yasin Sbeih, residente no campo de refugiados de Shuafat, manifestou o seu apoio à demolição parcial do muro.



“O que aconteceu aqui na 6ª feira à noite foi excelente e deve ser implementado em todos os pontos onde haja muro”, disse. “Esta tática pode ser efetiva para forçar o exército ocupante a dispersar esforços em várias frentes, e também servir para quebrar a parede interna entre palestinianos. Também pode ser usada para sublinhar a ilegalidade do muro em geral, e como a sua presença não tem a ver com a “segurança” de Israel, como alegam, mas sim com motivações discriminatórias”.

Desde que se divulgaram pela primeira vez os planos para construir um muro em torno de Jerusalém, inúmeros analistas têm repetido que a barreira visa exclusivamente controlar o crescimento demográfico dos palestinianos que vivem na cidade – que, em 2012, já eram, pelo menos, 38% da população de Jerusalém, mais de 200 mil pessoas –, assegurando espaço exclusivo para colonos israelitas.

Está previsto que o muro acompanhe todas as fronteiras municipais de Jerusalém – fronteiras que o governo israelita inventou e anexou, 17 dias depois da ocupação de Jerusalém leste em 1967, movimento jamais reconhecido pela lei internacional. No entanto, o traçado do muro, reconhecido pelos palestinianos como um mecanismo para roubo de terras palestinianas, inclui as colónias exclusivas para judeus de Gush Etzion, no sul; de Giv’at Ze’ev ao norte; e de Ma’ale Adumim a leste, cercando, no total, 164 quilómetros quadrados de terra palestiniana na Cisjordânia. O muro é construído próximo da região de Jerusalém leste, que fica separada, o que, para os israelitas, garantiria a separação intencional entre os colonos judeus e os habitantes originais palestinianos.



Cerca de 60 mil palestinianos em várias áreas com documentos de identidade azuis, de residentes em Jerusalém, estão impedidos de chegar diretamente a Jerusalém, e são obrigados a passar por um posto de controlo do exército de Israel, diariamente, para chegarem às escolas e aos respetivos locais de trabalho. É o que acontece com os palestinianos que vivem no campo de refugiados Shuafat, em Ras Khamis e nas vilas de Semiramis, Kufr Aqab, al-Ezzariyeh e Abu Dis.



Os enclaves que ficaram na área excluída pelo muro não recebem praticamente nenhum serviços básicos. Estão sob jurisdição da prefeitura de Jerusalém controlada por Israel, que os abandonou completamente; e a Autoridade Palestiniana é proibida, pelo Acordo de Oslo, de entrar nessas áreas. Consequentemente, não é raro ver ali ruas repletas de lixo, a infraestrutura urbana está destruída, as estradas são praticamente intransitáveis e há alta incidência de crimes de todo o tipo.



Em resumo, nenhuma autoridade local se interessa por garantir serviços municipais básicos à população palestiniana, o que levou à privatização dos serviços públicos por várias empresas e organizações não-governamentais. Os palestinianos, contudo, estão obrigados a pagar impostos municipais, sob pena de perderem os documentos que os reconhecem como residentes, o que limitaria ainda mais os seus direitos de ir e vir e cancelaria o direito, que ainda têm, de estudar e trabalhar em Jerusalém.



A passagem escavada no muro, em Abu Dis, ainda está aberta. Mas o exército israelita já instalou ali os seus jipes blindados e soldados armados, até que o governo de Israel reconstrua o muro.

 

20/5/2013

Artigo publicado em  http://goo.gl/bmsP3

Tradução de Vila Vudu.