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Grécia: Onda de discriminação e violência
Os imigrantes e os refugiados têm sido alvo de um ambiente de marginalização violenta que assume várias formas, entre as quais a proibição do usufruto dos poucos direitos legais que lhe deveriam ser reconhecidos, como pedir asilo, e a repressão aberta e a xenofobia por parte do governo grego e das forças policiais, que promovem prisões com base na aparência dos detidos e criam campos de detenção com condições miseráveis. Por outro lado, estes cidadãos são ainda vítimas de ataques racistas e assassinatos promovidos por gangues fascistas do partido de extrema direita Aurora Dourada com a tolerância, em muitos casos, da polícia e das autoridades judiciais.
A agudização da crise e a estratégia, totalmente falaciosa, de culpabilização dos mais desprotegidos, neste caso dos imigrantes, pela degradação das condições de vida da população grega, a par da não punição dos autores dos ataques xenófobos e racistas e do tratamento favorável que gozam nos media, contribuem para que cresça um ambiente fértil para o reforço do fascismo e da barbárie social.
Segundo a Rede de Registo de Violência Racista (Racist Violence Recording Network), em 2012, registaram-se 154 casos de violência racista, incluindo 25 casos em que as vítimas apontam as forças policiais como o agressor. Estes dados foram revelados em abril, uma semana após 30 trabalhadores do Bangladesh terem sido agredidos com tiros de espingarda pelos capatazes de uma quinta de morangos quando exigiam o pagamento de salários em atraso.
Kostis Papaioannou, representante da Comissão Nacional para os Direitos Humanos, afirmou que o número de ataques registados aumentou 20% face ao ano anterior, contudo, os números reais serão bastante mais elevados, já que muitas das vítimas não apresentam qualquer queixa com medo de represálias ou de serem deportadas.
Num relatório demolidor, divulgado em dezembro de 2012, a Amnistia Internacional (AI) refere que a Grécia está a deter imigrantes, incluindo crianças, em condições inumanas e impensáveis para um Estado-membro da União Europeia. “O falhanço da Grécia em respeitar os direitos dos migrantes e dos que buscam asilo está a ganhar as proporções de uma crise humanitária”, disse o director da AI para a Europa e a Ásia Central, John Dalhuisen, sublinhando que “a atual situação na Grécia é totalmente desmerecedora do Prémio Nobel da Paz que foi atribuído à União Europeia e está muito abaixo dos padrões internacionais de respeito pelos direitos humanos”.
“O fardo da Grécia é enorme, e, tendo em conta a actual crise económica, é cada vez mais difícil para o país lídar sozinho com a situação”, adianta a Amnistia Internacional. “No entanto”, acrescenta, “isso não pode servir de desculpa para negar às pessoas os seus direitos nem para permitir a retórica xenófoba e os ataques racistas”.
A par da perseguição e violência contra os imigrantes (ler artigos Feroz perseguição contra os imigrantes na Grécia e Uma tarde num bairro ateniense controlado por neonazis), promovidas quer pelo governo e forças policiais, quer por gangues neonazis, os membros do Aurora Dourada têm levado a cabo uma campanha de mobilização que passa, por exemplo, pelas iniciativas de vizinhança, especialmente em zonas onde se registou um aumento da criminalidade ou que se transformaram em destinos privilegiados de imigrantes, e até mesmo pela angariação de novos membros entre crianças e jovens. Distribuir números de telemóvel aos mais jovens com o argumento de que poderão protege-los quando estes saírem tarde da escola, instalarem-se em ginásios e clubes e encherem as áreas juntos às escolas de graffiti’s com slogans e símbolos nacionalistas são algumas das estratégias utilizadas (ler artigo: Partido de ultra direita Aurora Dourada recruta crianças e jovens).
São também cada vez mais frequentes as manifestações públicas de agressividade e discriminação por parte dos mais altos representantes deste partido de extrema direita.
Em junho de 2012, o deputado do partido fascista grego Aurora Dourada Ilias Kasidiaris agrediu ao vivo, durante um debate na TV, a deputada comunista Liana Kanelli, que se levantou para enfrentá-lo, depois de o mesmo militante fascista ter atirado um copo de água à cara da deputada Rena Dourou, da Syriza (ler artigo: Fascista grego agride deputadas de esquerda ao vivo). Depois de a emissão ter sido interrompida, o fascista ainda atacou funcionários do canal de TV Antenna, além de destruir uma porta.
Kasidaris já tinha sido anteriormente acusado de ter ajudado ao espancamento e roubo perpetrado por cinco pessoas contra um estudante universitário em 2007. Também foi acusado de porte ilegal de armas.
Num comunicado de 23 de fevereiro, Yorgos Mitralias, membro fundador do Comité Grego contra a Dívida, da Campanha para uma Auditoria da Dívida Pública Grega, e da coligação de esquerda Syriza, lançou o alerta para fora das fronteiras da Grécia para mais uma escalada agressiva: “os neo-nazis acabam de anunciar um ataque contra o seu camarada Moisis Litsis[i]”, com base na sua origem judaica.
Em maio deste ano, o deputado do partido de extrema direita Aurora Dourada Yorgos Germenis tentava agredir o presidente da câmara de Atenas, Yorgos Kaminis, em protesto contra a decisão do autarca de proibir uma distribuição de comida promovida pelo seu partido, e acabou por golpear uma menina de doze anos (ler artigo: Grécia: Deputado do Aurora Dourada agride criança de 12 anos ao tentar atacar presidente da câmara de Atenas). Durante os desacatos, Germenis ainda tentou puxar de uma arma.
Mais recentemente, o deputado do partido neonazi grego Aurora Dourada Panayiotis Iliópulos foi expulso do plenário por insultar o líder do Syriza, Alexis Tsipras, ao mesmo tempo que outro parlamentar do mesmo partido gritou várias vezes "Heil Hitler" (ler artigo: Fascistas gregos gritam "Heil Hitler" no Parlamento).
Em abril, Nils Muiznieks, comissário para os direitos humanos do Conselho da Europa, defendeu que a Grécia deve restringir as atividades de organizações que defendem o ódio e o racismo, devendo mesmo “ ser permitida a imposição de sanções ou proibições efectivas, se necessário”. Nils Muiznieks deu o exemplo do “partido político neonazi e violento” Aurora Dourada (ler artigo: Conselho da Europa sugere ilegalização de “partido político neonazi e violento” Aurora Dourada). Num relatório de 32 páginas sobre a Grécia, Muiznieks sublinha ainda estar “seriamente preocupado” com o aumento dos crimes de ódio contra os imigrantes na Grécia.
Para o comissário para os direitos humanos do Conselho da Europa, a proibição do partido neonazi grego "seria apenas uma parte da resposta para enfrentar o desafio". “Se a Grécia ilegalizar o Aurora Dourada ainda existe o problema da violência racial na Grécia, que é a questão mais ampla", frisou.
[i] Moisis Litsis dirigiu a recente luta dos trabalhadores do jornal Eleftherotypia e é um dos fundadores do comité grego contra a dívida (CADTM Grécia).
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