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Chernobyl fez 27 anos

O 27º aniversário da catástrofe de Chernobyl recorda-nos um triste legado mas, contraditoriamente, pode ter tido um impacto positivo no futuro. Por Joseph J. Mangano e Dr. Janette D. Sherman.
Entrada do portão de Chernobyl, com o sarcófago que fechoi o núcleo ao fundo. Foto Timm Suess, wikimedia commons

As más notícias primeiro. Chernobyl surpreendeu muitos com o primeiro derretimento do núcleo de um reator nuclear. Uma quantidade maciça de radiação mortal rodeou o hemisfério norte, afetando três mil milhões de pessoas, e entrou nos corpos humanos através da respiração e da cadeia alimentar. Alguns dos cem químicos mais radioativos de Chernobyl duram centenas ou milhares de anos.

Quantas pessoas foram atingidas por Chernobyl? Antes de que pudessem ser feitos estudos científicos, os céticos habitualmente usavam o número 31 – o número de trabalhadores que extinguiram os fogos tóxicos e que absorveram uma dose muito alta de radiação, morrendo em questão de dias.

Apenas seis anos depois do derretimento de 1986, começaram a ser publicados artigos de jornais médicos que mostraram o número crescente de habitantes perto de Chernobyl com certas doenças. Os primeiros foram crianças com cancro na tiróide. Numa reunião em Viena em 2005 estimou-se que 9.000 pessoas em todo o mundo tinham desenvolvido cancro devido ao derretimento. Mas começaram a acumular-se muitas histórias e estudos sugerindo que o número real era muito maior.

Em 2009, a Academia de Ciências de Nova York publicou um livro de três investigadores russos, encabeçado por Alexei Yablokov; um de nós (JDS) editou o livro. A equipa de Yablokov reuniu um volume incrível de 5.000 relatórios e estudos. Muitos foram escritos em línguas eslavas e nunca tinham visto o público. O livro documentou altos níveis de doença em muitos órgãos do corpo, mesmo em pessoas para além da União Soviética. A equipa de Yablokov estimou que 985 mil pessoas morreram em todo o mundo, um número que subiu desde então.

O governo e os líderes industriais no campo nuclear asseguraram ao mundo que a lição de Chernobyl tinha sido aprendida e que outro derretimento completo de núcleo jamais ocorreria. Mas em 11 de março de 2011 veio a tragédia de Fukushima, libertando enormes quantidades de radioatividade de não só um, mas três reatores, e uma piscina de resíduos nucleares. Mais uma vez, a radioatividade rodeou o globo. As estimativas de baixas eventuais são de muitos milhares.

De uma forma bizarra, Fukushima provocou o impacto positivo de Chernobyl. Os dois desastres são as principais causas de estarem a ser construídos poucos reatores nucleares, e de as unidades existentes estarem a ser fechadas. Todos menos dois (2) dos 50 reatores japoneses permanecem fechados. A Alemanha fechou seis (6) das suas unidades permanentemente e o governo comprometeu-se a fechar as outras em 2022. As autoridades suíças fizeram uma promessa semelhante.

Nos EUA, a maioria dos planos de construir dezenas de novos reatores foi abandonada ou adiada. Este ano fecharam os dois primeiros reatores desde 1998. Outros encerramentos vão seguir-se, dizem executivos nucleares que argumentam que os custos de produção da energia nuclear são superiores aos do gás natural ou da energia eólica. Os reatores custam mais devido aos maiores perigos envolvidos que requerem mais tempo de construção, mais pessoal para operar, mais medidas de segurança, mais regulamentos a cumprir, e grandes volumes para manter em segurança depois do encerramento.

Se Chernobyl atingiu muita gente, pode também, no fim de contas, ter salvo muitas vidas ao acelerar o encerramento de reatores. Menos derretimentos teriam significado menos baixas. Mas o fim das fugas rotineiras de radiação para o ambiente também teria reduzido a contagem. Estudos demonstraram que nos locais onde reatores fecharam, morreram menos crianças, menos desenvolveram cancro, e menos adultos tiveram cancro. Chernobyl deixou um trágico impacto, mas as consequências finais acabarão por ser positivas.

Joseph J. Mangano é Diretor Executivo do Projeto Radiação e Saúde Pública. É autor de Mad Science: the Nuclear Power Experiment (OR Books, 2012).

Janette D. Sherman é toxicóloga e editora de Chernobyl: Consequences of the Catastrophe for People and the Environment

Publicado em Counterpunch

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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