A TAP deu €110 milhões de lucro no verão passado, está a começar a poder pagar o adiantamento público e o Governo vai disso abdicar vendendo-a a uma empresa alemã, espanhola ou inglesa.
Passou mais de um século e será que não nos tutela ainda uma réstia desse espírito de casta, desse menosprezo pela população, do fingimento como forma de política?
A polémica sobre a habitação é uma farsa em que se usam duas máscaras: os que gritam que querem que se mantenha a solução liberal e o Governo que finge que vai tomar medidas valentes.
O que os liberais dos vários matizes nos propõem é simplesmente proteger o maior lóbi de Portugal, a teia finança-imobiliário-turismo. Percebo que a causa mereça tanta devoção, é a fonte do seu poder.
Num país de pobreza, de pensões miseráveis, de salários curtos, de empregos precários e de investimento medíocre, a conta certa só poderia ser pagar a dívida do atraso.
A realidade é avassaladora: 80% das famílias compraram casa, a maioria continuará a pagá-las por eternidades mas os filhos não podem comprar nem arrendar casa.
Ninguém melhor contribui para esta lenta degradação do que o primeiro-ministro, que permite tudo na expectativa de que o caso seguinte apague o anterior e que essa técnica leve ao esquecimento.
A inteligência artificial e a automação dos processos de certificação, distribuição e controlo dos apoios sociais estão a assassinar a Segurança Social — e o crime já avançou muito caminho.
O processo de ocultação e de justificação narcísica pelos governantes não é uma particularidade da tirania que Brecht combatia. É a essência da ocupação do espaço público pelo discurso do poder.
O tambor das informações na sociedade deixou de ser a intermediação profissional pelas empresas de comunicação e passou a ser a comunicação pelas empresas de redes.