Em entrevista ao Financial Times e à agência Reuters, o Presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, defendeu que o modelo de intervenção aplicado no Chipre, poderá passar a servir de exemplo para outras intervenções em países da zona euro, onde sejam detetadas situações de risco no setor financeiro.
As declarações de Dijsselbloem estão a ser interpretadas como uma mudança de estratégia na abordagem à crise por parte do Eurogrupo. Refira-se que, na anterior reunião dos ministros das Finanças da zona euro, ocorrida a 15 de Março, se tinha designado o modelo como meramente cipriota, não sendo replicado em outras intervenções.
O “modelo cipriota” prevê que os depositantes com mais de 100 mil euros, acionistas e credores, contribuam no financiamento da recapitalização bancária. Passando a ser regra no Mecanismo Europeu de Estabilidade.
Segundo o ministro holandês, o “momento mais quente da crise já passou”, sendo o momento exato para uma viragem na forma de abordar resgates ao setor financeiro, “evitando a utilização do dinheiro dos contribuintes” como aconteceu na Irlanda e em Espanha.
“Se há um risco num banco, a primeira questão deve ser: Ok, o que vão fazer no banco para resolver isso? O que podem fazer para se recapitalizarem? Se o banco não o pode fazer, então falaremos com os acionistas e detentores de títulos e pediremos para que contribuam para a recapitalização dos bancos, e se necessário falaremos com os depositantes com depósitos não garantidos (…) É uma abordagem que penso que nós, agora que estamos fora do calor da crise, teremos consequentemente que tomar”, defendeu o Presidente do Eurogrupo.
Porém, reconheceu que ainda “há algum nervosismo” entre os pares, que temem que esta nova orientação promova uma fuga de capitais da zona euro.
Em referência a Malta e Luxemburgo, que detêm um setor bancário sobredimensionado, isto é, rácios elevados de setores financeiros em relação ao PIB - bastante superiores ao cipriota - advertiu para que “lidem com o problema antes de entrarem em sarilhos, a resposta não será mais automaticamente: nós entramos e vamos resolver os vossos problemas”.
A Eslovénia poderá ser o próximo país a enfrentar o modelo, dados os problemas profundos do seu setor financeiro.
Angela Merkel elogia acordo encontrado
A chanceler alemã, através de um comunicado, elogiou o “modelo cipriota”: “Sempre dissemos que não queríamos contribuintes a salvar bancos, mas antes bancos a salvar-se a si próprios. Será esse o caso do Chipre. Este é o resultado correto porque coloca o maior peso da responsabilidade sobre aqueles que causaram os erros. É assim que deve se”.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgand Schäuble, também se congregatulou com o acordo encontrado, definindo-o como “equitativo”, devendo “estabilizar a situação do país”. Posição semelhante teve Herman Van Rompuy, Presidente do Conselho Europeu.
Afirmações do Presidente do Eurogrupo tiveram efeito imediato nas bolsas europeias
Em tom crítico, a agência financeira Markit referiu que as declarações de Dijsselboem serviram apenas “para reacender o contágio”.
As bolsas de Madrid e de Paris perderam 2,27 e 1,12%, depois de terem registado uma
subida de 1% durante a manhã. Milão caiu 2,22%. O PSI 20 português, desceu 1,19% e o euro depreciou 0,8% em relação ao dólar.
No setor bancário os efeitos foram ainda mais significativos, a Unicredit e Intesa Sanpaolo desceram 5%, o Popolare, Société Génerale e Crédit Agrícola perderam cerca de 4%. O BES deslizou 4,43% e o BCP e o BPI 0,37%.