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Eleições no Equador: goleada de Rafael Correa

O presidente Rafael Correa foi reeleito na primeira volta com uma votação superior a 60% dos votos, segundo sondagens à boca de urna realizadas pelas empresas Cedatos e Opinião Pública Equador. Segundo os dados preliminares, Correa ganhou em todas as províncias do Equador, seguido pelo banqueiro Guillermo Lasso, que deve obter cerca de 21% dos votos.
Com exceção da denúncia de tentativa de invasão da página do Conselho Nacional Eleitoral na internet, o processo eleitoral desenrolou-se de forma tranquila e normal tanto nas seções eleitorais dentro e fora do país.
O triunfo de Correa significa um triunfo da estabilidade num país que experimentou profundas crises políticas nas quais vários governos corruptos e vendidos foram derrotados pela mobilização social. É a primeira vez, em mais de três décadas, que um presidente conserva altos níveis de popularidade no final do seu mandato e é reeleito com uma ampla margem.
Neste sentido, a votação de Correa expressa um sólido apoio à continuidade de suas políticas e uma oportunidade para que ele conclua as obras que começou em matéria de estradas, hospitais, escolas, centrais hidroelétricas, etc.
Alguns elementos podem explicar o contundente triunfo de Correa: crescimento económico, baixas taxas de inflação e de desemprego e políticas de redistribuição de renda que se traduziram num massivo investimento social em educação, saúde, habitação, apoios sociais e melhoria da qualidade dos serviços públicos (Correios, Segurança Social, registo civil, assistência jurídica).
Ao imprimir altos níveis de qualidade aos serviços públicos e ao colocá-los à disposição dos setores mais pobres da população, estes últimos não só tem acesso a eles como se sentem valorizados na sua dignidade, o que explicaria o alto apoio a Rafael Correa. Esses setores, além disso, foram beneficiados com o bónus de desenvolvimento que no mês de janeiro subiu de 35 para 50 dólares mensais.
Um candidato a deputado do Movimento Alianza País, cujo nome será preservado, defende que o voto de Correa é “transclassista”, ou seja, que ele vem de todos os setores sociais. A gestão do governo, segundo esta versão, certamente favoreceu setores empresariais os quais estão a evoluir muito bem e que constituem o voto oculto a favor de Correa. A melhoria das estradas, por exemplo, permite que eles economizem tempo e tenham mais facilidade para transportar os seus produtos.
Da mesma forma, as políticas económicas que limitam as importações de têxteis ou calçados permitiram o crescimento dos setores económicos dedicados a este ramo de produção. Estes setores empresariais “acostumaram-se” a pagar impostos e a cumprir legislação laboral porque isso permite que eles tenham melhores relações com os seus trabalhadores, o que resulta numa maior produtividade.
Do ponto de vista internacional, o triunfo de Correa representa o fortalecimento da tendência de governos progressistas que já conseguiram ser reeleitos no Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela e Nicarágua, e uma aposta no fortalecimento dos espaços de integração como Alba, Unasul e Celac. O governo de Correa deverá enfrentar situações difíceis como o caso de Julian Assange, que se encontra exilado na embaixada do Equador em Londres, a lei dos Estados Unidos que sanciona os países que mantém relações com o Irão, as exigências das transnacionais contra o Estado equatoriano, entre outras.
Um dos elementos que contribuiu de forma decisiva para a vitória de Correa foi a fragmentação e a pobreza do discurso das oposições (de direita, esquerda e populistas) que apresentaram sete candidaturas presidenciais, sem que tenham conseguido unificar-se em três ou quatro tendências. Centradas todas em atacar o que denominaram o autoritarismo, a intolerância e a concentração de poder nas mãos de Correa, foram incapazes, especialmente no caso da direita representada pelo banqueiro Guillermo Lasso, o homem mais rico do Equador Álvaro Noboa e o ex-presidente Lucio Gutiérrez, de propor alternativas credíveis e medianamente estruturadas e coerentes.
Guillermo Lasso, que obteve o segundo lugar, canalizou o voto anti-Correa dos setores da direita tradicional que compartilham algumas das suas teses esgrimidas na campanha como a de diminuir os impostos dos mais ricos, firmar tratados de livre comércio e abrir o país ao investimento estrangeiro privado. Lasso é membro honorário da Opus Dei e mantém relações com José María Aznar, do Partido Popular, de Espanha, que atua na América Latina representando a direita internacional e o capital transnacional.
A campanha
Outro elemento que influenciou os resultados eleitorais foi o desenho da campanha de Correa. Apesar da grande popularidade do presidente, o movimento Alianza País trabalhou como se não tivesse um só voto e privilegiou a campanha na rua, perto das pessoas, as concentrações em vilas e cidades, o que se complementou com o uso de meios de comunicação e redes sociais. Este movimento acumulou a experiência de oito vitórias eleitorais consecutivas.
Ainda que o triunfo de Correa já estivesse previsto, não estava assegurada a maioria na Assembleia Nacional composta por 137 membros, razão pela qual a estratégia do presidente deu atenção especial ao parlamento. “Não me deixem só”, dizia Correa aos seus apoiantes nos comícios, enquanto pedia o voto para a sua lista de deputados. Apesar de alguns candidatos terem sido questionados e também o candidato a vice-presidente, isso não parece ter repercutido nos resultados finais que apontam uma maioria folgada da Alianza País na legislatura. O carisma de Correa influiu mais.
Ampliação da democracia
No início do século XX, reconheceu-se o direito de voto para as mulheres. Em 1979, quando o Equador regressou ao regime democrático, reconheceu-se esse direito aos analfabetos. Em 2013, graças à nova Constituição, avançou-se muito mais na inclusão política. Agora, puderam votar os jovens de 16 a 18 anos, os militares e policias, os emigrantes, os presos sem sentença executada, os estrangeiros residentes. De acordo com esta política, foram tomadas medidas para que os policias e motoristas pudessem ajudar as pessoas com problemas de mobilidade e pessoas da terceira idade para que pudessem chegar às assembleias eleitorais.
Este novo triunfo de Correa coloca grandes desafios na direção do cumprimento das propostas do programa de governo 2013-2017 da Alianza País e da resposta às expectativas de uma cidadania cada vez mais protagonista. No horizonte das dívidas pendentes está atacar a concentração escandalosa da terra, a redistribuição da água, a lei de comunicação, o confronto com os grupos monopolistas que concentram a economia, a abertura do diálogo político com os povos indígenas e o combate à corrupção, entre outros.
Artigo:Eduardo Tamayo – Alai Amlatina Tradução: Katarina Peixoto
Publicado no portal Carta Maior
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