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Da Grécia a Val di Susa, a luta não descansa. Agora e sempre, resistência

Em Outubro e Novembro passados, milhares de estudantes italianos protestaram contra a atual crise económica e financeira, ocupando ruas em várias cidades de Itália. Agora, em vésperas de eleições italianas, é importante tentar entender para onde é canalizado este descontentamento.

Nos passados dias 5 de Outubro e 24 de Novembro de 2012, aconteceram duas grandes mobilizações estudantis em Itália. O principal motivo de revolta dos manifestantes centrava-se na ofensiva que o governo de Monti traçava contra a Escola Pública e a perpetuação da crise económica e social em Itália com os sucessivos pacotes de austeridade acordados entre o Governo não eleito italiano e a União Europeia. Um estudante, no dia 24 de Novembro, dizia para a imprensa: “protestamos contra os sucessivos cortes no orçamento da Educação, executados tanto pelo Monti como pelo Berlusconi”. Roma, Turim e Milão foram os três principais palcos deste desfile, que, em alguns momentos, conheceu a intervenção policial até sobre manifestantes menores de idade.

Na Università degli Studi di Salerno ainda se sente nos corredores das salas de aula o calor que as últimas movimentações estudantis criaram junto da comunidade académica e da restante sociedade civil. As Associações de Estudantes, em Dezembro, conheceram uma campanha eleitoral onde a fronteira se definia entre aceitar este modelo austeritário ou lutar realmente pela escola pública. Essa disputa politizada foi fruto dos últimos acontecimentos que tinham abanado a consciência de muita gente.

No entanto, a menos de duas semanas das eleições italianas (que se realizam a 24 e 25 de fevereiro), toda essa vontade de transformar a realidade não encontra uma plataforma política que lhe dê expressão e alguma esperança para não deixar desvanecer esse movimento. O descontentamento expressado no final do ano passado nas ruas italianas rapidamente se pode transformar num discurso do senso comum contra a classe política e os partidos políticos em geral.

Mas existe uma força política que está a saber aproveitar, com muito populismo, este momento – é o Movimento Cinco Estrelas. O Movimento Cinco Estrelas, que agora concorre às eleições italianas apresenta-se com um programa que critica a classe política em geral e há pouco tempo comparou os políticos atuais com Hitler, Mussolini e Ceausescu.

Estes factos todos obrigam-nos a refletir sobre para que serve um partido político e qual a necessidade de existir uma esquerda organizada para o combate contra o austeritarismo e a ofensiva de direita que se apoia no discurso da dívida e da incapacidade do Estado manter serviços públicos de qualidade para todos os cidadãos. Em Itália, a coligação Revoluzione Civile luta pela sua sobrevivência. Mas os anteriores acordos com o governo de Prodi desacreditam muita gente deste projeto, estudantes incluídos.

A capacidade de organização e ampliação das ideias mais progressistas e anti-capitalistas é fraca pois não conhece uma plataforma que reúna esses ativismos que dão expressão a esses ideais. A proposta política à esquerda não conhece fronteiras muito largas no que toca aos problemas mais localizados, como por exemplo as questões da Educação. O processo, por exemplo da Revoluzione Civile passa por uma auto-afirmação e ainda está longe de conseguir ampliar os seus ativismos.

No final de Fevereiro saberemos já para onde emigrou o voto daqueles e daquelas que o ano passado ocuparam a Porta Portese em Roma. (ver notícias aqui e aqui)

Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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