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Ambientalistas criticam plano sobre derrames no Ártico

Ambientalistas alertaram sobre a fragilidade de um plano inadequado para proteger o Oceano Ártico de derrames de petróleo, após a reunião mantida na Suécia pelos ministros do Ambiente dos países com territórios na área. Artigo de Joe Hitchon, da IPS.
Os países do Conselho do Ártico - Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia e Suécia - preparam um tratado sobre derrames que deixa muitas dúvidas quanto à resposta a uma nova tragédia ambiental.

Segundo a organização ambientalista Greenpeace, que teve acesso a uma cópia do documento, ele sugere que os oito membros do Conselho do Ártico não chegaram a um acordo no dia 4 sobre os detalhes técnicos necessários para enfrentar um derrame de grande magnitude.

Isso apesar de terem aberto a porta para mais perfurações e explorações petrolíferas na região. "Não estamos impressionados pelo que vimos nesse documento totalmente inadequado", disse à IPS um membro do Greenpeace em Washington, Ben Ayliffe. "Não há nada para preparar os governos em caso de desastre nem para proteger o Ártico", acrescentou. Segundo o Portal do Sistema das Nações Unidas para o Clima, o gelo do Ártico atingiu em 2012 seu menor nível registrado. O degelo, que os dados científicos atribuem à mudança climática acelerada pelas atividades humanas, criou uma virtual febre do ouro na região.

As elevadas temperaturas fazem com que o Ártico, que costumava estar congelado a maior parte do ano, agora seja um canal de navegação aberto durante mais da metade do tempo. A consequência foi uma debandada para reclamar direitos sobre seu território, que segundo estimativas da organização norte-americana Geological Survey, contém 22% dos recursos energéticos do mundo ainda não descobertos.

Segundo o biólogo Richard Steiner, especialista do Alasca em derrames de petróleo, 46 navios mercantes navegaram no último verão boreal pelo que agora se conhece como a Rota do Mar do Norte, dez vezes mais do que há apenas dois anos. "Houve um aumento impressionante da navegação no Oceano Ártico, especialmente com produtos petrolíferos muito perigosos", disse à IPS.

Steiner também sublinhou que um aumento das perfurações na região exige leis severas. No entanto, o acordo do Conselho Ártico carece de padrões de rendimento técnico, mecanismos de controle e pautas operacionais. "Seguem adiante com o desenvolvimento de perfurações e a navegação sem as salvaguardas apropriadas. É realmente trágico. Temo que esperam um grande derrame para implementarem sistemas adequados", lamentou.

Steiner acrescentou que isso foi o que aconteceu no caso Exxon Valdez, em que um petroleiro encalhou no Alasca em 1989. "Temo que isto também aconteça no Ártico. Apesar das lições aprendidas, muito pouco mudou em matéria de políticas de prevenção", afirmou.

O Conselho do Ártico, criado em 1996, é integrado por países com territórios nessa área: Canadá, Dinamarca (pela Groenlândia), Estados Unidos (pelo Alasca), Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia e Suécia. O novo tratado sobre derrames será assinado pelos seus membros em maio, quando se converterá no segundo acordo selado pela organização intergovernamental desde que o acordo de busca e resgate foi subscrito em 2011.

Entretanto, Ayliffe diz que o documento não atende de forma adequada as questões complexas que implica um possível derrame na região. "É um pesadelo. As dificuldades técnicas de responder a um desastre que ocorra sob uma glaciar a uma milha de profundidade tornam impossível uma operação como a que a multinacional British Petroleum teve que fazer no Golfo do México", advertiu.

Apesar das garantias oferecidas pelo Conselho do Ártico, de que o acordo incluiria medidas de proteção ambiental específicas, como estratégias de prevenção e de recuperação após um derrame, Ayliffe apontou que o acordo "não detalha uma resposta essencial, métodos para tapar um buraco ou limpar animais e habitats prejudicados. Por outro lado, baseia-se em declarações vagas sobre as medidas que deverão tomar as nações da área com os recursos disponíveis", acrescentou.

O documento tem uma redação ambígua sobre os derrames, só pede aos países que tomem "medidas adequadas" para evitar o problema, sem indicações específicas nem requisitos. Também carece de normas sobre a responsabilidade das companhias petrolíferas em caso de desastre e de instruções sobre como gerir de forma adequada um derrame.

"Nenhuma petroleira jamais testou a sua capacidade de resposta a um derrame nos glaciares, e o acordo não tem nada sobre como as companhias vão deter ou limpar um desastre como o de Deepwater Horizon", disse Ayliffe.

Ele referia-se à torre de perfuração da firma suíça Transocean Ltd que alugava à BP e que explodiu e pegou fogo em 20 de abril de 2010 no Golfo do México diante da costa do Estado norte-americano de Lousiana, afundando dois dias depois. Durante três meses foram derramados quase cinco milhões de barris (de 159 litros). "Temos esperanças de que devido ao mal-estar gerado por este documento haja tempo antes de maio para preencher algumas lacunas", acrescentou Ayliffe.

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