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Mario Draghi e o Deutsche Bank envolvidos no escândalo do banco italiano

O banco mais antigo do mundo, o italiano Monte dei Paschi dei Siena, está envolvido num escândalo de grandes proporções pelo uso de derivados financeiros, que não só envolve os executivos que deixaram há um ano o seu cargo, mas também Mario Draghi e o Deustche Bank por ocultação de informação e empréstimos fraudulentos. Por Marco Antonio Moreno.
O banco antigo do mundo, o italiano Monte dei Paschi dei Siena, está envolvido num escândalo de grandes proporções pelo uso de derivados financeiros

O Banco italiano Monte dei Paschi dei Siena nasceu 20 anos antes de Cristóvão Colombo zarpar para o novo mundo, quando Miguel Angelo ainda não tinha nascido e Leonardo DaVinci tinha apenas 20 anos e ainda não criava os seus grandes frescos. Foi fundado pela Magistratura da República de Siena em 1472, três séculos antes de existir a ideia de uma Itália unificada, e por isso é considerado o banco mais antigo do mundo ainda em funcionamento, com 3 mil sucursais, 33 mil empregados e 4,5 milhões de clientes.

Pois bem, este banco que sobreviveu à guerra italiana, que viu a rendição de Siena a Espanha em 1555, que superou as pestes e as pragas, a campanha de Napoleão e a segunda guerra mundial, está envolvido num escândalo de grandes proporções pelo uso de derivados financeiros, que não só envolvem os executivos que deixaram há um ano o seu cargo, mas também Mario Draghi e o Deustche Bank por ocultação de informação e empréstimos fraudulentos.

Tudo começou com a tomada excessiva de riscos por parte do Banco Monte dei Paschi dei Siena (BMPS), no seguimento do jogo dos bancos que encabeçavam a tomada de riscos como o Goldman Sachs e obtinham com isso grandes proveitos. O BMPS não quis ficar atrás e foi assim que começou a especular fortemente nos mercados de alto risco com a aprovação de quem fosse ministro das Finanças e depois governador do Banco de Itália: Mario Draghi. Grande parte destes empréstimos eram geridos através da banca alemã, principalmente do Deutsche Bank.

O estalar da crise financeira e a falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008, pôs em dificuldade o BMPS, que se viu obrigado a pedir uma ajuda de 1.500 milhões de euros ao Deutsche Bank, em dezembro de 2008. Esta operação foi denominada Projecto Santorini, ajudou a mitigar uma perda de 400 milhões de euros e foi feita no mais absoluto segredo, dando conta da opacidade da banca para declarar perdas que depois se tornam maiores e obrigam ao resgate por parte dos governos e dos contribuintes.

O tsunami do Lehman Brothers e as perdas acumuladas nos derivados financeiros (ou ativos tóxicos de destruição massiva) obrigaram o BMPS no ano de 2009 a pedir um novo resgate, desta vez ao governo italiano, no montante de 1.900 milhões de euros. No ano de 2012 o banco solicitou um segundo resgate de 500 milhões de euros acumulando 3.900 milhões de euros entre os resgates do Banco de Itália e do Deutsche Bank. O grande problema é que o BMPS nunca revelou os 1.500 milhões de euros solicitados ao Deutsche Bank em 2008, e isso provocou um enorme abalo financeiro que dá conta da pouca transparência da banca. O tema torna-se ainda mais complexo quando quem estava ao comando do Banco de Itália e encabeçava estas operações ante o banco alemão era o presidente do Banco Central italiano, Mario Draghi, o mesmo que hoje conduz as finanças do Banco Central da Europa. Desde o início da crise o Monte Paschi dei Siena perdeu 90 por cento do seu valor.

Queda do BMPS na bolsa, nos últimos 5 anos

As perdas do BMPS chegam hoje a 800 milhões de euros e foram ocultadas mediante empréstimos secretos do Deutsche Bank alemão e do Nomura Bank japonês, num situação similar à contabilidade criativa do Goldman Sachs, que ajudou a Grécia a ocultar défices fiscais durante anos. Por isso, promotores de Itália abriram uma investigação sobre este caso para verificar a supervisão que sobre o Monte Paschi dei Siena realizava o Banco Central de Itália encabeçado por Mario Draghi.

Isto demonstra que a grande banca sempre pensou que a atual crise era um acidente transitório que seria rapidamente superado com os novos e grandes lucros que apagariam as perdas. Nunca pensaram que a crise iniciada em 2008 com a falência do Lehman era o início de um colapso que sacudiria fortemente as débeis bases do sistema financeiro global, cheio de ativos tóxicos e com uma contabilidade criativa digna de duendes e fantasmas.

Artigo de Marco Antonio Morenoem El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

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