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Copacabana Palace: promiscuidade e impunidade de mãos dadas

No caso BPN, sempre a perigosa promiscuidade entre certos círculos políticos e os grupos financeiros do costume. Promiscuidade e impunidade fotografadas no Copacabana Palace: Relvas, Arnaut e Dias Loureiro, juntos e ao vivo, na passagem do ano carioca.

A história do BPN – o banco laranja – conta-se em poucas palavras. Uns roubaram que se fartaram e outros não deram por nada. Os primeiros andam por aí e o principal dos segundos estacionou em Frankfurt, na sede do BCE. Estão todos bem e recomendam-se. Nem a justiça portuguesa incomoda demasiado os primeiros, nem os erros cometidos penalizam a carreira do dr. Constâncio. Tudo gente feliz.

Em 2008, quando o buraco do BPN era indisfarçável, o ministro Teixeira dos Santos nacionalizou o banco. Na verdade não nacionalizou o BPN, nacionalizou o passivo do banco.

Os ativos do grupo, esses, permaneceram com quem estavam, os acionistas do gangue que administrou e desfalcou o BPN anos a fio, os donos do BPN e que, entretanto, já mudaram o nome à sociedade, para protegerem o seu património e apagarem o mau nome que deixaram no mercado. Eram SLN são agora Galilei. Tudo gente feliz

Durante três anos, banqueiros públicos (CGD) foram encarregados por Teixeira dos Santos de gerir o BPN nacionalizado. O buraco financeiro, agora à conta do estado, revelou-se em toda a sua dimensão.

Mas nem isso foi suficiente para que os gestores públicos conseguissem recuperar um euro que fosse, nuns casos porque eram tóxicos e não valiam nada, noutros casos porque quem devia não queria pagar ou recusavam qualquer responsabilidade na dívida porque eram simples testas de ferro ou, então, porque não se lhes conhece o nome ou, ainda, se têm nome não têm rosto, o que vai dar ao mesmo.

Surpreendentemente, ninguém se incomodou muito com isto, nem quem devia pagar foi suficientemente incomodado para o fazer. Tudo gente feliz.

E chegou o governo PSD/CDS. Escandalizado com o que viu, Vítor Gaspar prometeu resolver o problema, tal como Teixeira dos Santos também prometera.

O que o PS nacionalizou, privatizou o PSD/CDS. Parece diferente mas não é. Tudo ficou na mesma, o prejuízo continuou público e sempre a crescer, e o prémio, esse, foi direitinho para outros banqueiros, agora privados, neste caso, do BIC, um banco de capitais luso-angolanos, a quem o governo vendeu por 40 milhões um banco limpinho e pronto a operar no mercado, depois de ter gasto quase mil milhões para o conseguir vender por escassos 40 milhões.

O problema BPN ficou exatamente na mesma como o governo do PS o deixou. Um gigantesco buraco nas contas públicas, próximo dos quatro mil milhões de euros que podem ultrapassar os 6,5 mil milhões e que os contribuintes, todos nós, estamos e vamos continuar a pagar.

O governo PSD/CDS não resolveu o problema do BPN, resolveu o problema do BIC e, vendeu o banco ao BIC, porque quis e não porque não houvesse outras soluções.

E quis vender ao BIC por razões políticas bem ilustradas na intervenção do próprio Pedro Passos Coelho junto do ministro angolano Carlos Feijó, a quem pediu os seus bons ofícios para que o negócio se concluísse como veio a acontecer.

A venda do BPN ao BIC foi uma venda de favor e a preço de amigo, determinada por motivações políticas e não pelo interesse público.

No fim, tal como no princípio do caso BPN, sempre a perigosa promiscuidade entre certos círculos políticos e os grupos financeiros do costume, a habitual utilização de meios do estado para promover sombrios negócios privados, tudo beneficiando da conhecida impunidade que protege os poderosos.

Promiscuidade e impunidade fotografadas no Copacabana Palace: Relvas, Arnaut e Dias Loureiro, juntos e ao vivo, na passagem do ano carioca.

Sobre o/a autor(a)

Médico. Aderente do Bloco de Esquerda.
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