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Alterações climáticas começam a preocupar os EUA

2012 foi o ano mais quente da história dos Estados Unidos da América e trouxe a destruição a Nova Iorque com o furacão Sandy. A administração norte-americana sempre foi um travão aos acordos sobre redução das emissões de carbono, mas Obama comaça a dar sinais de querer colocar o assunto na agenda da Casa Branca. Artigo de Fabiano Ávila, do Instituto Carbono Brasil.

Quem acompanha as negociações climáticas internacionais sabe que praticamente em todos os anos os Estados Unidos estão entre as nações que mais criam obstáculos para avanços concretos em direção a políticas que envolvem ações imediatas. Além disso, os norte-americanos, segundo sondagens de opinião, estão entre os povos mais céticos em relação às alterações climáticas.

Esse cenário parece estar em transformação diante dos acontecimentos de 2012, ano que foi marcado por fenómenos climáticos extremos, como a super tempestade Sandy, e que acaba de ser confirmado pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) como o mais quente da história do país.

Segundo o jornal The Guardian, que ouviu entidades ambientais que teriam estado em contato com a Casa Branca, o presidente Barack Obama deseja realizar uma conferência climática em breve.

“Conversamos sobre a intenção de usar a Casa Branca como um catalizador não apenas para desenvolver uma estratégia climática nacional, mas também para mobilizar pessoas. O objetivo parece ser colocar o presidente num papel de liderança, mas não apenas para discutir o que o governo pode fazer, mas sim mostrar para o público norte-americano como pode ajudar”, afirmou Bob Doppelt, presidente do Grupo de Inovação de Recursos.

Washington sediaria a conferência, porém seriam  realizados eventos paralelos em diversos locais do país. De acordo com Doppelt, a iniciativa está em “séria consideração” e pode acontecer nos próximos meses.

Não foi apenas a Casa Branca que parece ter acordado para a realidade do aquecimento global. Políticos e ONGs estão mais ativos do que nunca para sensibilizar o governo e a população para o problema.

“Os factos falam por si mesmos. O anúncio da NOAA e a devastação do Sandy são provas de que as alterações climáticas estão acontecendo diante de nossos olhos. Precisamos agir agora para lidar com esse desafio e proteger nosso povo e economia”, declarou em comunicado a senadora democrata Barbara Boxer.

“O relatório deveria soar como um alarme, não podemos esperar mais um dia para começar a lutar com as alterações climáticas”, disse Daniel Lashof, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.

“As notícias perturbadoras de 2012 destacam a necessidade do presidente Obama de lidar com as emissões de carbono. A ciência informa-nos que nosso planeta está aquecendo e que veremos mais ondas de calor, secas e eventos extremos”, afirmou Shaye Wolf, diretora do Centro para Diversidade Biológica.

Pressão Popular

Praticamente todos os grandes órgãos de comunicação dos Estados Unidos deram destaque para o anúncio da NOAA e é fácil perceber pelos comentários dos leitores que a consciencialização para o risco das alterações climáticas está a multiplicar-se.

Na reportagem do New York Times, por exemplo, a leitora Jessica escreveu: “O que eu acho mais impressionante é que as pessoas estão surpresas [com os dados da NOAA]. Há anos que as evidências, levantadas pela ciência, estão ai para serem observadas”.

Outro leitor, CJ Fou, foi ainda mais enfático: “As medições científicas acuradas não possuem uma agenda. Registos de temperaturas históricas realizados meticulosamente não são baseados em opinião (…) A Terra está a aquecer e qualquer coisa que a humanidade faça para acelerar este processo vai contra o bom senso”.

Diante da insistência de alguns em ainda negar as alterações climáticas, uma leitora respondeu citando uma das famosas frases do irónico jornalista HL Mencken: “Ninguém nunca errou ao subestimar a inteligência do público norte-americano”.

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