You are here
Tradutoras acusam grupo editorial Leya de atrasos nos pagamentos

O grupo editorial Leya está a atrasar os pagamentos aos tradutores dos seus livros, denunciaram duas tradutoras portuguesas que trabalham habitualmente para aquele grupo, Leonor Marques e Mariana Avelãs.
“Um livro que entreguei em julho ainda não foi pago e a última informação que tive foi que só será feito o pagamento em fim de janeiro”, disse Mariana Avelãs ao Esquerda.net. “Acontece que quando a gente entrega o trabalho passa também o recibo, como se já tivesse recebido, e tem de pagar os encargos correspondentes. E afinal o dinheiro só vai entrar no ano que vem”.
As tradutoras começaram a contactar outras colegas e verificaram que a situação é geral no grupo Leya, que reúne editoras como a Caminho, Asa, D. Quixote, Lua de Papel, ou Teorema. “Ao que parece, a Leya não está a pagar aos fornecedores desde outubro”, disse a tradutora, que aponta que o livro que traduziu está à venda até no Pingo Doce. “Pelos contactos que fizemos, este atraso verifica-se no grupo Leya, mas editoras mais pequenas independentes estão a pagar em dia”, diz Mariana Avelãs, que lembra que o grupo paga um prémio anual de cem mil euros a uma obra inédita e atrasa o pagamento aos tradutores. “É muito bom que a Leya tenha um papel importante de mecenato, mas também é importante cumprir os compromissos com os que trabalham para ela”, sublinha.
Falta organização e estatuto profissional
A atitude de um dos maiores grupos editoriais do país veio trazer à luz do dia a total precariedade em que vivem os tradutores. “Temos uma situação especial”, reflete Mariana Avelãs. “Por um lado, somos verdadeiros recibos verdes, não falsos; mas, por outro lado, não somos profissionais liberais, porque fazemos parte da cadeia de produção das editoras.”
Os tradutores, porém, não têm estatuto profissional, carecem de poder negocial, por não contarem com qualquer tipo de organização, e sequer recebem direitos de autor pelas suas traduções. As tabelas de tradução são informais e, para a tradução literária, paga-se 7 euros a página, o que significa que um livro médio de cento e poucas páginas, que demora mais de um mês a traduzir, rende cerca de mil euros.
“O tradutor pode sempre recusar o trabalho, mas depois nunca mais é chamado para traduzir outro livro”, explica a tradutora, que diz que há editoras que já começaram a dizer que a tabela tem de ser rebaixada.
Mariana Avelãs considera que está na hora de os tradutores começarem a organizar-se. “Na situação em que estamos, ficamos totalmente desprotegidos”, diz, “e os contactos que fiz mostram que é possível avançar”.
Livros mais vendidos sem pagar a tradução
Outra tradutora, Leonor Marques, que já traduziu cerca de 30 obras para o grupo Leya, disse à agência Lusa que lhe devem cerca de dois mil euros de uma tradução feita em agosto. Para piorar, as traduções são de dois volumes de uma trilogia de sucesso da escritora britânica E.L. James, que está na tabela dos livros mais vendidos em Portugal.
Pedro Garcia Rosado foi um dos tradutores que na Primavera deste ano denunciou o incumprimento de prazos de pagamento e, desde então, explicou à Lusa, nunca mais lhe encomendaram outro trabalho: "Infelizmente não me foi feita mais nenhuma proposta de tradução desde que na primavera deste ano eu e outras pessoas fizemos coletivamente pressão sobre a direção financeira para que fossem ultrapassadas as dificuldades de prazos e de comunicação então existentes", disse.
Contactada pela agência Lusa, fonte do grupo Leya não quis fazer qualquer comentário.
Add new comment