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O plano de austeridade secreto do ministro das finanças alemão
Ao mesmo tempo que anuncia, numa entrevista ao jornal “Bild” que o pior da crise da Zona Euro já terá passado e que o crescimento da economia alemã deverá ser aceitável, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, responsabilizou a sua equipa pela elaboração de um plano de cortes orçamentais que, segundo os seus proponentes, visa preparar a Alemanha para o enfraquecimento da economia e as possíveis consequências da crise do Euro.
Segundo o documento, citado pelo Der Spiegel, a Alemanha, caso queira escapar às consequências da crise do Euro, terá que aumentar drasticamente os impostos e proceder a profundos cortes sociais nos próximos anos.
Em causa está, nomeadamente, a subida do IVA reduzido de 7% para 19%, a introdução de uma taxa de solidariedade na Saúde e o corte orçamental de 10 mil milhões de euros neste setor, o aumento do número de anos que cada trabalhador terá que trabalhar para assegurar a sua reforma e uma maior penalização das reformas antecipadas, a diminuição do valor da pensão por viuvez, a redução do investimento público e o corte no orçamento destinado à Educação.
O ministro das Finanças alemão, que já demonstrou confiar nas previsões e nas recomendações dos seus colaboradores, esforça-se, contudo, por evitar qualquer efeito perverso que este plano de austeridade possa ter na campanha eleitoral que se avizinha, mantendo as suas intenções no maior secretismo.
A implementação das medidas de austeridade a serem preparadas pelo ministério de Schäuble visam garantir o cumprimento da cláusula de travão da dívida introduzida nos últimos anos na Constituição alemã. Ainda que seja reconhecida ao governo a oportunidade de recorrer a empréstimos, que, em 2016, poderão ascender a 10 mil milhões de euros, não é recomendável, segundo defende Schäuble, esgotar essa possibilidade. “É absolutamente necessário manter uma distância suficiente face ao limite constitucional durante o planeamento orçamental para prever despesas estruturais e evoluções da receita inesperadas”, adiantam os peritos no documento.
Uma “forte desaceleração económica” e um consequente aumento da dívida pública, ou a necessidade de absorver as dívidas dos bancos resgatados, como o Hypo Real Estate, o Commerzbank e o WestLB, são alguns dos fatores que preocupam Schäuble e a sua equipa.
O mesmo acontece com a possibilidade de os cofres públicos alemães, que asseguram atualmente um financiamento de 190 mil milhões de euros ao Mecanismo Europeu de Estabilidade, virem a esvaziar-se caso os credores do governo grego venham a perdoar parte da dívida do país.
Comments
A "Regra de Ouro" alemã que
A "Regra de Ouro" alemã que limita os défices faz sentido para o senso comum; mas na realidade é suicidária. Nos EUA, uma regra semelhante possibilita aos Republicanos fazer chantagem sobre os Democratas com os "precipícios fiscais". Na Califórnia, um referendo anti-impostos foi revogado quando os eleitores perceberam que o governo precisa de dinheiro.
Mas a UE consagrou nos tratados automatismos semelhantes ao alemão. Os economistas do regime concordam, mas não explicam como chegaram, primeiro ao limite de 3% dos défices, e depois ao de 0,5%. Nem explicam porque é que o combate à inflação é mais importante do que o combate ao desemprego, à recessão ou à deflação.
Quando eu era pequeno e a minha mãe não me deixava fazer alguma coisa, eu argumentava que as mães dos outros meninos deixavam. Ela respondia:
- E se os outros se forem deitar a um poço, tu também vais?
A Alemanha está a correr para o poço, e nós atrás dela. Em vez de fugir no sentido oposto.
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